Os tanques da ala ideológica do governo Bolsonaro avançam em todas as áreas a uma velocidade que faria inveja às divisões panzer do general Heinz Guderian. O movimento de pinça é comandado diretamente pelo presidente ou por seus filhos interpostos.
Essa ofensiva adquiriu ares de grande operação, nos últimos dias, tendo como objetivo tático o cerco e aniquilamento do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo, e como objetivo estratégico assegurar o caráter permanente da “revolução conservadora”, como defende o guru Olavo de Carvalho.
Vamos aos fatos.
Na Educação, o novo ministro Abraham Weintraub confirma que entrou no teatro de operações para retirar do papel a agenda ideológica, coisa que Ricardo Vélez foi incapaz de fazer. Weintraub ameaça cortar verbas de “universidade que promover balbúrdia”. Por balbúrdia entendam-se “manifestações políticas e festas inadequadas”. No primeiro momento três universidades federais (UNB, UFF e UFBA) sofreram contingenciamento de 30% em suas verbas, sem que o ministro tenha especificado o motivo. Poucas horas após a decisão, expandiu a medida para todas as universidades federais, ainda sem motivo concreto.
O filtro ideológico pôs na alça de mira os cursos de filosofia e sociologia, que receberão menos verbas. Ele nos faz lembrar de desatinos cometidos na História como os que levaram a se queimar – em praça pública – livros de filosofia, história, sociologia, literatura.
No meio ambiente, o presidente em vez de mediar conflitos entre o pessoal do agronegócio e o da sustentabilidade, tomou um lado. Mandou fazer uma limpa no Ibama e no Instituto Chico Mendes, elegendo os agentes de fiscalização como inimigos da pátria. Em uma feira do agronegócio anunciou que encaminhará um projeto de lei que dará direito de atirar a quem tiver sua terra invadida. É uma clara violação da Constituição, pois o excludente de ilicitude se aplica em defesa da vida. Jamais em defesa da propriedade.
O presidente vai além de respaldar seus radicais. Ele mesmo toma iniciativas na linha de aprofundar a “revolução conservadora”, como aconteceu ao censurar o conteúdo mercadológico de uma peça publicitária do Banco do Brasil, pautada na diversidade.
Quando não é ele, são seus filhos. A bola da vez é o general Santos Cruz, que enfrenta uma guerra promovida por Carlos Bolsonaro. Até os peixes do Lago Paranoá sabem que Carlos diz nas redes sociais aquilo que o pai não pode dizer publicamente. O general Santos Cruz é um moderado. Por isso mesmo tem sido um obstáculo para que a ala talibã do bolsonarismo tenha em mãos a estratégica Secretaria de Comunicação.
A blitzkrieg do conservadorismo se explica pela mudança de atitude de Jair Bolsonaro, na arbitragem do conflito entre os pragmáticos e ideológicos. Em um primeiro momento, ele ouvia muito a voz moderada dos militares do seu governo, como aconteceu em relação à Venezuela e à transferência da embaixada para Jerusalém.
Nos últimos tempos o presidente deixou de ser um mediador do conflito das duas alas de seu governo para tomar partido em favor dos ideológicos. Até porque ele é um deles. E pode estar fazendo uma leitura torta de sua eleição, acreditando que ela se deu em decorrência da agenda ultra-direitista.
Priorizar essa agenda é um equívoco que pode lhe custar caro. A boa estratégia militar recomenda não se abrir várias frentes. Em vez de concentrar forças para ganhar a batalha da Previdência, o presidente desguarnece seus flancos ao dispersar suas forças e gastar energia em uma pauta identitária que não é a do país.
Ademais, como a História já demonstrou, toda blitzkrieg tem sempre a sua Stalingrado.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 1º/5/2019.