Gente, eu nunca vi fúria tão grande como nestes últimos tempos nas redes sociais.
Se antes das eleições, famílias estavam sendo desintegradas por causa da política, hoje não está sobrando pedra sobre pedra! Fim dos laços familiares, fim das amizades, fim dos papos inteligentes, da troca de ideias, de gentilezas…
Nesta semana recebi um tweet “dedicado” exclusivamente a mim, sobre o que a direita bolsonarista classifica de atitude calhorda do João Doria, a de ter abandonado a prefeitura de São Paulo, deixando em seu lugar o Bruno Covas que, por sua vez, teria contratado um monte de comunistas e que ainda vai dar aumento pra eles. Termina dizendo “você aí que votou no PSDB, quer isso para o Brasil?”
Eu, que estava quietinha no meu canto, recebi o recado como se fosse uma imposição religiosa, tipo o meu Deus é o único que existe, então pare de acreditar no teu, senão você vai se dar mal.
Respondi que, se fosse verdade – nem procurei saber se é – eu não tinha nada a ver com isso. Que não tenho bandido de estimação e não aplaudo desonestidade e nem cagadas de político nenhum. E que sempre que tiver um deslize pra comentar eu vou continuar comentando, porque até agora o pensamento e a liberdade de expressão têm sido livres.
Se meu candidato tivesse ganho as eleições e fosse fazer lá fora o que lhe desse na telha, eu ia chiar, e chiar bem alto:
Pô, Chuchu, precisava ficar de quatro na “cuestão” dos vistos de entrada? Não pensou nas longas horas que nós brasileiros perdemos na fila do Consulado Americano pra pegar um OK, baby, you can go, ou então passando pelo carão de receber um NÃO bem grande se o funcionário não for com as nossas fuças?
E não me venha você, Chuchu, com essa de que é pra incentivar o turismo no Brasil, que não cola. Que americano, australiano ou japonês deixaria de visitar o nosso querido país por causa de uma merrequinha de uma taxa que não chega a 100 dólares?
Não é por isso, não! Enquanto estivermos nos noticiários lá fora como sendo um país violento, onde o carnaval tem Golden Shower em tudo quanto é canto, enquanto não apresentarmos estrutura turística minimamente confortável pro estrangeiro acostumado ao bem-bom, enquanto os “Gersons” do comércio não se conscientizarem de que falar outra língua não é aval pra cobrarem três vezes mais por uma caipirinha ou por um prato em um restaurante, vamos continuar sendo um país pouco visitado. Os turistas vão continuar preferindo comer empanadas e tomar vinho nacional no Chile do que se aventurarem por aqui.
Mas tudo o que eu estou dizendo neste momento, me prometam, vai ficar entre nós. Se eu falar lá no Twitter sobre isso, ou sobre como o Palácio do Governo virou a casa da Mãe Joana com o filhote Carluxo se deixando fotografar sentado na mesa do pai como gato marcando terreno, ou como o filho Eduardo não se sentiu nem um pouco constrangido em participar da conversa particular entre o papi e o tio alaranjado, ou que não pegou bem no meio militar daqui o provável apoio do Brasil aos Esteites no caso de alguma intervenção na Venezuela por parte deles, ou comentar sobre a proposta “mamãe te ama” que o governo apresentou para a Reforma Previdenciária dos militares, jogando por terra mais uma falácia do presidente sobre o “sacrifício” que os militares teriam de fazer…
Bem, se eu falar essas coisas no Twitter vou parecer uma “imigrante mal-intencionada”, e ser responsabilizada pelos vertiginosos 15% de queda de popularidade do presidente, e de quebra, ainda ganhar o diploma de comunista que a vociferante direita impinge aos que não pensam como ela!
Combinado, então? Boca de siri, talquei?
Este artigo foi originalmente publicado em O Boletim, em 22/3/2019.