Marina é uma criaturinha alegre, luminosa – solar, como Paulo dizia de Maria Alice em Todas as Mulheres do Mundo. Mas a atual paixão cinematográfica dela é Vampirina, uma vampirinha azul que se mudou com seus pais da Transilvânia para a Pensilvânia.
Tinha apresentado para nós na noite de sábado, quando, já bem tarde, percebeu que estava cansada e propôs DVD, que é palavra genérica usada para ver desenho, seja qual for a mídia. O desenho, da Disney, está disponível na Netflix; Marina nos mostrou os quatro primeiros episódios, com evidente orgulho: ela adora apresentar para os avós coisas que eles não conhecem ainda.
Nesta terça, em que a pegamos na escola e ficamos com ela um tempão, quis brincar de Vampirina. Ela, naturalmente, é a personagem central, a protagonista da história, como sempre. À vovó coube o papel de Poppy, a garotinha humana, vizinha, que se torna a maior amiga de Vampirina. Ao vovô foram dados dois papéis: o de Edgar, o irmão de Poppy, e o de Brigitte, a outra amiguinha humana de Vampirina, que morre de medo de tudo, até mesmo da aranha que ela mesma desenha.
Fomos Vampirina, Poppy e Edgar ou Brigitte durante a maior parte das quase 5 horas em que ela esteve conosco. Inclusive nos outros brinquedos – teve, por exemplo, escolinha, nós três desenhando, com os personagens devidamente incorporados. Também na passagem pela Praça da Padaria ela brincou ao lado de Poppy e Brigitte.
Sempre fico curioso em saber como quando onde e por que Marina ficou conhecendo um novo desenho; a cada vez que ela nos apresenta nova historinha, pergunto como foi que ela ficou conhecendo. As fontes são as mais variadas, é claro: me lembro de ela ter contado que tal desenho foi a Cau que mostrou, outro foi a amiga-irmã Nina, outro foi o papai. Desta vez, quando inquirida sobre quem aplicou Vampirina, foi taxativa: ninguém.
Claro que não me dei por vencido – continuei questionando. E ela insistindo: não foi ninguém, foi ela mesma que achou. Mais algumas perguntas, e deu para entender que de fato foi ela mesma, olhando o menu da Netflix. Bateu o olho na vampirinha, quis ver, adorou.
Ninguém aplicou a ela: ela descobriu sozinha.
Vixe Maria.
Vampirina veio depois de uma época de paixão da Marina pela princesa Sofia, do reino de Encãntia, e pela princesa Elena, do reino de Avalor.
Marina passou um bom tempinho, recentemente – talvez um mês, talvez até dois meses – sem se referir à sua até então mais duradoura paixão, as irmãs Elsa e Anna de Frozen. Mas, no sábado, na hora de ouvir historinha contada pelo vovô, com a vovó deitada ao lado, pediu Frozen – pela primeira vez em várias semanas.
Definitivamente, Frozen, até agora, é o Casablanca dela.
***
Marina continua me assustando por não ser pidona, não ser consumista. Vai com a gente ao shopping (como fomos recentemente para cortar o cabelo dela e outra vez para fazer compras no supermercado) e não pede nada, absolutamente nada. No dia do supermercado, passamos na área de brinquedos, olhamos – e ela nada.
Nesta terça houve nova demonstração desse fenômeno singular.
Da escola fomos até a Praça da Padaria, como ela chama a Irmãos Karmann. Estava feliz da vida no balanço quando de repente disse que estava com frio nas pernas, queria botar calça comprida. (Tinha feito muito calor no meio da tarde, mas depois das 5 a temperatura caiu brutalmente.) Tivemos então que entrar na padaria pra pegar a chave do carro com a vovó. Junto dos caixas estão montes de atrações que deixam muitas crianças louquinhas – mas Marina, nada.
Calça comprida posta, voltou ao balanço, e estava alegrinha e conversadeira, contando coisas sobre a Vampirina.
No gira-gira, eu a girei com ela sendo Vampirina e estando com as amigas Poppy e Brigitte.
Aí me ocorreu passar na excelente banca que tem ali ao lado da padaria para ver se havia alguma revista de Vampirina. Ela, com aquela certeza absoluta das coisas que às vezes demonstra, falou duro comigo: – “Vovô, não tem nenhuma revistinha de Vampirina”. Tentei argumentar: – “Como é que você sabe?” Ela, firme: – “Eu sei, vovô, porque a Vampirinha é muito nova. Não deu tempo pra sair revista nenhuma dela.”
Mas topou ir à banca, antes de voltarmos pra casa. O moço disse que já teve alguma coisa da Vampirina, sim, mas tinha acabado. Mostrei alguns livros e revistas para ela, inclusive um livrão grande da Lady Bug, personagem de que ela gosta.
A danadinha da criatura viu, olhou, olhou – e não demonstrou interesse em pedir para levar nada!
Se fosse eu, teria pedido meia banca!
Que peça!
***
Uma das brincadeiras que ela curtiu muito repetir foi pedir para a gente desenhar coisas assustadoras, e ela, fazendo papel de Brigitte, se assustar.
Saía da sala, aí entrava, no papel de Brigitte. Olhava nossos desenhos e se assustava, gritava de medo. Depois ria da própria brincadeira. E fazia de novo.
Até parecia que Marina estava ligada no Halloween, que rolaria no dia seguinte…
30/10/2018
Pois é,senhor Edgard: Pelo visto, além de gostar das histórias e dos personagens, Marina quer interpretá-los e dirigir a peça!Olha o teatro aí!Que coisa boa!
A Poppy deve se lembrar dos teatrinhos noturnos da sua infância! Tem a quem puxar!Acho incrível saber que ela não fica pedindo coisas. Talvez aprecie mais as surpresas. E elas chegam sempre!Bjs.