Pedro Parente tinha tudo para ser uma unanimidade nacional. Antes de sua gestão, a Petrobrás ocupava as páginas policiais. Parente herdou uma dívida de R$ 450 bilhões, a maior dívida corporativa do mundo no setor do petróleo. A estatal monopolista vinha de dois anos sucessivos de prejuízo e sua dívida era quase cinco vezes superior à sua geração de caixa quando o recomendável é que seja no máximo de duas vezes.
As causas da hecatombe são sobejamente conhecidas: corrupção em larga escala patrocinada pelo lulo-petismo, investimentos desastrosos, obrigação da Petrobrás estar presente em toda exploração do pré-sal e o represamento dos preços de seus produtos. Só nessa brincadeira o governo da presidente Dilma Rousseff deu um prejuízo de R$ 59 bilhões à estatal.
Em dois anos Pedro Parente reverteu o quadro. A Petrobrás voltou aos cadernos de economia, a relação dívida/geração de caixa em 2018 será de 2,5; a empresa retomou sua capacidade de investimento e teve um lucro de R$ 6,7 bilhões só no primeiro trimestre deste ano. Voltou a distribuir dividendos para seus acionistas, resgatando sua credibilidade internacional. A venda de ativos, o desaparelhamento e a nova política de preços foram decisivas para a sua recuperação.
Pedro Parente caiu por diversos fatores. O primeiro foi querer mudar a natureza do animal. Afinal, a Petrobras é uma empresa estatal. Eliminar interferência política é querer demais, impossível até com a criação de regras “eficientes” de intervenção. O melhor mesmo seria acabar com o monopólio e privatizá-la.
Além disso, Pedro Parente errou feio ao trazer para os derivados de petróleo, cobrados em reais, a volatilidade diária do preço do barril lá fora, potencializada pela flutuação cambial.
Sua queda também se deu pela confluência de interesses ideológicos, eleitoreiros e de um governo frágil e pusilânime, incapaz de defender um de seus poucos ativos.
Neste caso a Frente Ampla do Populismo vai do ministro Moreira Franco à Federação Única dos Petroleiros, passando ainda por Jair Bolsonaro. Nessa arca de Noé estão os presidentes do Senado e da Câmara, tucanos como o senador Cássio Cunha Lima, Ciro Gomes, a esquerda estatocrata, viúvas da ditadura e os partidos do Centrão. O próprio presidente Michel Temer aderiu ao cordão dos irresponsáveis, com concessões descabidas aos caminhoneiros e declarações dúbias quanto à política de preços da Petrobrás.
Os presidenciáveis da esquerda bombardearam a política de Pedro Parente porque querem o retorno do modelo do represamento dos preços. O candidato da extrema direita apoiou o locaute do setor de transportes por ser beneficiário de uma desordem social. E os oportunistas de diversas colorações partidárias para surfar na onda do movimento dos caminhoneiros.
Não se esperava outra coisa desses atores. O lamentável é o silêncio sepulcral de candidatos a priori comprometidos com a estabilidade e a credibilidade da política econômica. De Marina Silva e Geraldo Alckmin não se ouviu uma palavra de condenação às bondades concedidas aos “caminhoneiros” ou de defesa de Pedro Parente.
Pensávamos o Brasil livre da reserva de mercado e do represamento dos preços, quem sabe um dia livre de empresas estatais monopolistas.
As concessões de Temer trazem de volta fantasmas do passado. Hoje a política de preços da Petrobrás, amanhã o teto dos gastos. Hoje o diesel, amanhã a gasolina e o gás.
O amanhã está próximo: o governo já estuda medidas para conter o preço da gasolina e do gás. É o chamado represamento disfarçado dos preços, com o fardo da conta caindo nas costas da sociedade.
Em ano eleitoral, a voracidade do populismo é insaciável.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 6/6/2018.