Tínhamos, na casa onde eu morava, antes de me encarcerar em apartamento, uma chapeleira na entrada da sala. Peça antiga, bela, que servia à decoração, mas onde, afinal, penduravam-se casacos e guarda-chuvas.
Agora estou pensando em outro móvel, para receber objetos trazidos por visitantes. Eis por que cogito isso. Minha cunhada Dena, que mora com a gente há muitos anos, adoeceu e passou por temporada longa no hospital.
Em casa, continuou o tratamento. Por fim, pôde ir para o sofá da sala, onde visitas seriam bem-vindas, e a boa conversa poderia reanimá-la.
Vieram as visitas. Entro na sala e dou com quatro pessoas, três mulheres e um homem, sentados à frente da paciente. Sentados e – todos – com a cara enfiada em seus celulares. Nenhuma palavra, nem que fosse para comentar o que os magnetizava na pequena tela.
Nada. A doente, o olhar perdido, aborrecida.
Resolvi criar uma peça com escaninhos, que se imporá logo à entrada da sala. Os visitantes serão obrigados a deixar ali seu celular. Se tocar, mas só neste caso, estarão autorizados a atendê-los – depois a coisa volta para o castigo.
A consequência imagino facilmente. Ninguém mais aparecerá em casa. Talvez alguma velha tia da Dena, ou um amigo da família, uma amiga, essa gente estranha que usa as palavras para se comunicar.
Muitas pessoas sabem que tenho em casa uma máquina de escrever da época do Al Capone, e câmaras fotográficas para filmes de rolo. Antes que me tomem por algum personagem de Eça, esclareço que são simples peças de decoração. Para o cotidiano, uso as mesmas maravilhas dos nossos tempos, do laptop ao celular.
O último, boa companhia em lugares impessoais, nas viagens do metrô por exemplo. Posso ler o noticiário, eventualmente responder a uma mensagem.
Mas se o ilustre passageiro ao lado me dirigir a palavra, respondo imediatamente. Ao fim da conversa, convido-o a tomar um bom Rum Creosotado (o Google é outro recurso excelente à disposição).
Janeiro de 2016
Minha sala Valdir possui 4 tomadas de energia, quando recebo amigos elas ficam todas ocupadas por carregadores de celulares, daí comprei uma extensão com 4 entradas. tipo régua, e coloquei perto da porta de entrada, para facilitar os visitantes.
Dá umas trocas involuntárias na saída, gostei da idéia dos escaninhos.
O celular tem seu valor, porém, o ser humano da atual geração tende a crescer desfazendo do semelhante. Nada mais insuportável do que ver pessoas mexendo intermitentemente em teclado telefônico. deveriam levar castigo, serem chamados para palestras de bons modos, ou mesmo, levar uma peiazinha nas orelhas em alguns casos. Por que não uma lei nesse sentido? E autoridades corajosas em fazê-las cumprir, duela a quien duela? Atualmente, o desrespeito é lamentável. Conforme a sua descrição, Valdir, ocorre até em família!
corrijo: Deveriam levar castigo, serem chamadas