Eduardo Cunha, um herói da negativa de autoria

A insistência de Eduardo Cunha em negar a existência de suas contas no exterior – existência mais do que comprovada, fartamente comprovada, em documentos, que são reproduzidos pelos jornais – me faz lembrar uma piada que ouvi do meu irmão então recém-formado em Direito.

Ele contava a piada para ilustrar um dos mandamentos do advogado de defesa: a negativa de autoria.

Meu irmão tinha se formado na Faculdade de Direito da UFPr, aquela cujo prédio é cartão postal de Curitiba até hoje, e sabia o que queria na vida – exercer Direito do Trabalho. Mas, como bom médico recém-formado gosta de exercer clínica geral antes de partir para a especialização, ele se mudou para Pato Branco, no Sudoeste do Paraná, para praticar advocacia geral.

Pato Branco (pronuncia-se pató brancó, com os Os bem abertos, o mais longe possível do pátu mineiro) fica no Oeste, e o Oeste, a gente sabe, é terra de tiro. Não muito longe dali está a Tríplice Fronteira – o pontozinho emblemático em que se encontram Brasil, Argentina e Paraguai. Paraguai, a terra do contrabando.

Advogado do FarOeste tem que se acostumar a defender contrabandista de diversos tipos de bens, inclusive um tipo de bem que se contrabandeia muito – drogas.

E então meu irmão aprendeu que a lição básica do advogado de defesa é ensinar a seu cliente a arte da negativa de autoria.

Imagine-se, por exemplo, que neguinho vem pela Ponte da Amizade, que passa por cima do Paranazão, que faz a divisa entre o Paraguai e o Brasil. O carinha vem carregando, digamos, umas sete sacolas de maconha.

Se acontecer de um guarda brasileiro o parar, e se acontecer de o guarda ser honesto, e não pedir uma graninha para deixar o carinha passar, o que todo advogado de defesa aconselha a fazer é negar a autoria.

Como assim, seu guarda? Maconha? Não sei o que é isso, nunca cheguei perto. Não tenho idéia do que seja. Algum safado botou isso aí dentro do meu carro para me ferrar.

***

Agora vem a piada. É grosseira, suja – pior que um elefante caindo num imenso lamaçal.

O caminhoneiro parou num trecho especialmente deserto da estrada, desceu com a namorada, respirou fundo – e aí deu tesão, e eles resolveram se comer ali mesmo, na estrada, junto do caminhão.

E aí – surpresa! – lá em vem o carro da Polícia Rodoviária.

O caminhoneiro fica de pé. A namorada nem tem tempo de se mexer, fica lá no chão.

Seu guarda pergunta o que é aquilo.

O caminhoneiro, que tinha conversado muito na vida com um advogado de defesa, diz que não é nada, não, seu guarda. Ele tinha ficado cansado e parado o caminhão pra dar uma saidinha, ficar de pé um pouco.

O guarda pergunta: mas e esse pinto de fora da calça?

O caminhoneiro, liso que nem peixe ensaboado: ah, seu guarda, é pra dar uma mijadinha.

O guarda: mas e essa mulher pelada aí no chão?

E o caminhoneiro, liso que nem um maluf, que nem um cunha:

Ô seu guarda, ainda bem que o senhor avisou, se não eu mijava em cima dela!

Outubro de 2015

2 Comentários para “Eduardo Cunha, um herói da negativa de autoria”

  1. Evandro Lima e Silva, grande jurista, contava que um dia recebeu um telefonema de um pai muito aflito dizendo que o filho havia matado uma pessoa. Evandro de pronto disse ele não matou ninguém: estão dizendo que ele é o assassino.

  2. Afinal, como justificar a relação incestuosa do oposição com Eduardo Cunha?
    Um crime passional cometido por total ausência de sentidos?

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