O capitalismo não respeita nem a mãe

Neste Mês das Mães, dê para a sua uma tampa de privada. A Folha de sexta-feira, 22, trazia sobrecapa com propaganda de uma loja de materiais para construção. Destaque: “Mês das Mães. Ofertas incríveis para surpreender sua mãe”. E vinham os materiais à venda, com fotos.

O filho dá o embrulho com o presente. A mãe abre. “Oh, meu filho, obrigada. Eu estava mesmo precisando de uma tampa de privada.” Também, se fosse o caso, poderia ganhar o vaso sanitário completo, com caixa de descarga acoplada. As fotos dos dois produtos estavam na sobrecapa.

O Dia das Mães era para ser comemorado com gestos de amor. Uma cartinha, uma flor colhida no jardim, um almoço (não naquela cantina que se entope de gente) em família.

No entanto, o comércio se apropriou da data, dos dias do pai, dos namorados, etc.. Como fez com o Natal, a grande festa de consumo do Cristianismo. Em termos de exposição, Papai Noel se destaca mais do que Cristo.

Está bem, está bem. É preciso que os cidadãos comprem, para estimular o comércio e a indústria, a economia crescer, gerar empregos e riquezas. Nunca, certamente, haverá o Dia do Despojado, o Dia do Simplório, datas fadadas ao fracasso.

Concluí que na raiz do problema estão o capitalismo e sua voracidade pelo lucro. Não respeitam nem a mãe. Usam nossas mães para nos obrigar a consumir. Minha alma pura clama por um regime que me trate com justiça e equanimidade. Amigos, tomei minha decisão. Parto para a Coréia do Norte.

Maio de 2015

2 Comentários para “O capitalismo não respeita nem a mãe”

  1. Pode haver mudança de planos: em vez de ir para os democráticos coreanos, que tal ir à Islândia – ou Luxemburgo, etc. -, onde o próprio sistema impede o capitalismo de reinar?

    A virtude dos norte-europeus não está em matar o capitalismo e buscar um novo sistema, como quer o Valdir, mas sim em colocar CAMISAS-DE-FORÇA no capitalismo, para que ele não imponha à população o que ele quer.

    [lá, existe o capitalismo E o seu contrapeso: uma tal de “sociedade civil organizada”. No Brasil, só há mercado]

    O capitalismo e suas propagandas tendem ao totalitarismo, ainda que não sejam totalitaristas. Ir a Pyongyang e não voltar simboliza trocar um totalitarismo por outro.

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