Inês pergunta sobre as pessoas, sobre as coisas. Quer saber como está minha irmã, minha sobrinha tal, meu sobrinho tal. Me pergunta sobre minhas coisas, meus sites, como estou.
Não são perguntas vãs, formais. Inês quer de fato saber.
A gente se vê apenas uma vez por ano, Inês, minha filha de coração, e eu. Temos nos visto uma vez por ano já faz alguns anos, sempre que ela vem ao Brasil. Mora do outro lado do Equador desde quase sempre. Morou um tempo na Inglaterra, depois conheceu na Índia o Karsten, com quem se casou faz muito tempo. Moraram uma época em Berlim – numa viagem à Europa, Fernanda a visitou, foi um belo encontro. Moram agora, e já há bastante tempo, em Munique, Inês, Karsten e os filhos Maria, Daya e Leo.
Mary e eu ficamos muito impressionados com essa coisa de Inês querer saber das coisas, das pessoas.
Inês pergunta mais sobre os outros do que fala sobre si mesma.
Esse interesse de Inês por saber das pessoas demonstra uma coisa fantástica, fabulosa, rara, cada vez mais rara. O mundo, para Inês, não começa e acaba em seu próprio umbigo. O mundo de Inês é amplo.
Não que ela não fale de seu próprio mundo, suas coisas pessoais. Perguntada – e nós perguntamos muito -, ela responde, se desvenda, se mostra.
Mas ela tem interesse em saber como estamos nós, como está fulano, e fulana, e sicrano. Interesse real, sincero, honesto.
Me fez muitas perguntas sobre como está sendo a coisa de tentar parar de fumar. Depois de ouvir longas explanações (os fumantes e os ex-fumantes sempre falam longamente sobre cigarro), mostrou-se absolutamente feliz: “Sé, você vai ter muito mais tempo de vida pra curtir Marina!”
Inês não é umbigocêntrica – muito antes ao contrário. Ela enxerga o mundo.
Foi bastante estranho, simbólico, emblemático, que tivéssemos encontrado Inês numa quinta, com toda essa maravilhosa demonstração de não-umbigocentrismo, porque, no dia anterior, a quarta, eu tinha me encontrado com dois dos meus irmãos, e nenhum deles me perguntou nada.
No sábado anterior ao meu encontro com minha irmã, depois com meu irmão, eu tinha tido uma experiência forte, impressionante, maravilhosa: tínhamos feito um reencontro, 50 anos depois, meio século depois, da turma que se formou no ginásio do Colégio de Aplicação em 1964. Um reencontro 50 anos depois. Tinha sido uma coisa muito forte, muito emocionante.
Quatro dias depois, nem minha irmã nem meu irmão sequer perguntaram como tinha sido lá. Poderiam ter perguntando assim pro forma, sem qualquer interesse real em saber, mas pelo menos por algum resquício de educação. Nem isso fizeram. São seres umbigocêntricos. Nada no mundo importa, a não ser o próprio umbigo deles.
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Credo em cruz: ficou lastimoso, choroso, reclamativo. Não era minha intenção. Só queria realçar essa coisa fantástica da Inês de ser pessoa anti-umbigocêntrica.
Inês se importa com os outros. Inês quer saber como estão as pessoas.
Inês é um ser que olha o mundo, e tem imensa curiosidade.
Inês é uma pessoa deliciosa, admirável.
Daya veio com ela no primeiro dos nossos encontros 2014. É a filha do meio – Maria é a mais velha, Leo, o mais novo. Daya é grande e lindérrima. É uma pessoa inteligente, curiosa, encantadora. Que adolescente de 17 anos faz tanto carinho na mãe?
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Discutimos, brigamos, nos desentendemos demais, no passado, a mãe de Inês e eu. O motivo principal das discussões, brigas, desentendimentos, era minha relação com Inês. Ela me acusava por não amar Inês.
E, em parte, em boa parte, Regina tinha razão. Não soube amar Inês quando me casei com a mãe dela abandonando a mãe da minha filha. Me enchia de culpas por estar vivendo com uma filha que não era minha, por ter abandonado a minha. Embora, na verdade, nunca tivesse abandonado a minha – mas a cabeça da gente muitas vezes dá nós insuspeitados.
Foi preciso que passasse muita água sob as pontes, muitos e muitos anos, décadas, para que ficasse absolutamente claro que todos os dramas que Regina e eu fizemos a respeito de nossas filhas foram nossos, e não delas.
As culpas, as merdas todas da cabeça dos pais não necessariamente produzem problemas nas cabeças dos filhos. Estão aí Inês e Fernanda para comprovar isso – duas belíssimas mulheres, inteligentes, independentes, fortes, cabeças feitas, cabeças resolvidas, boas profissionais, maravilhosas mães. Pessoas fantásticas, pessoas admiráveis, pessoas de babar – minha filha, e minha filha que já chamei de filha torta e hoje chamo de filha do coração.
Acredito que Regina esteja vendo tudo isso, de algum lugar de onde ainda não se inventou DDD ou DDI para que possamos nos comunicar. Talvez de vez em quando se junte a Suely, e fiquem as duas olhando suas filhas e seus netos, todos lindos, maravilhosos. Seguramente com imenso orgulho.
Elas e eles são de fato motivo de orgulho sem fim.
Agosto e setembro de 2014
Inês é a pequena que faz parte da minha vida. Tudo que se falou acima sobre ela é pura verdade, ela já olhava o mundo curiosa, doce e meiga e com certeza repassou aos filhos a forma carinhosa como entende as pessoas.
Um dia dei de presente para Inês, um boné, alusivo ao odiado PT, foi emocionante e contagiante a alegria da pequena Inês com tão singelo presente.
Fico feliz de saber que Inês é hoje a mulher que se preocupa e pergunta por aqueles que acredira serem seus.
Não tenho filha ou neta,Inês preenche saudosamente este vazio.
Boa, Miltinho!
Um abraço.
Sérgio