Pingão da Marta, boneco do Covas

“Desce o pingão!”

Não é conversa de bar, é de redação de jornal. Propunha-se um “pergunta e resposta”, quando a idéia era publicar uma entrevista com esse formato. Depois, passou a ser um “pingue-pongue”. Com o tempo, os jornalistas, por pressa ou pelo hábito da síntese, aboliram o pongue. “Vamos fazer um pingue com o secretário.”

Ora, uma entrevista longa, que resulta num texto grande, passou a ser um pingão. “Desce o pingão da Marta”, mandaria o editor, se a entrevista tivesse sido com a ministra da Cultura, Marta Suplicy, quando ela era deputada.

Esse “desce” se explica: antes da informatização, as matérias, batidas à máquina, em laudas de papel, desciam para a oficina. Hoje, o computador cuida disso.

Em termos de jargão no jornalismo há exemplos clássicos. Foto posada do entrevistado era “boneco”. “Vou dar um boneco do Covas aqui no alto”, dizia o editor, apontando para o lugar onde colocaria o retrato do ex-governador paulista.

A continuação de uma matéria, na edição do dia seguinte, era “suíte”. O chefe da reportagem: “Vamos suitar a invasão dos sem-teto”. “Matéria” mesmo, em lugar de “reportagem”, é um jargão.

Na redação do Jornal da Tarde dos bons tempos, surpreendi um editor pedindo ao repórter: “Cerca essa vaca para mim.” O horário de fechamento da edição (ou deadline, como preferem hoje) se aproximava, e um texto estava com problemas. Ou seja, a vaca estava indo para o brejo.

O bicho mais freqüente nas redações, no entanto, é outro. Como muitos sabem, jornalista novo, inexperiente, é um foca. De onde vem o apelido? Consta que nasceu nos remotos tempos do flash a magnésio. Antes de usarem flash com lâmpada e pilha, os fotógrafos se valiam de uma placa com aquele elemento químico. Riscava-se um fósforo, e o magnésio se incendiava num forte clarão (e o fotografado, muitas vezes, saía com cara de susto).

Vamos supor que profissionais de vários jornais estivessem na Central de Polícia. Eles se postariam à frente do fotografável, abririam o diafragma da câmara (por onde a luz entra para chegar ao filme), e ajustariam o foco. Tudo pronto, alguém riscava o fósforo.

Mas… e se entre eles estivesse um novato? Na hora agá, ele: “Espera, espera.” O colega, impaciente: “Anda com isso.” O novato: “Calma, estou focando”. E todos: “Foca de uma vez!”. Nas vezes seguintes, ao ver o colega chegar, comentariam: “Ih, lá vem o foca.”

O autor deste texto quer deixar bem claro que não presenciou esses fatos. Soube deles pela crônica da reportagem policial de antigamente.

Novembro de 2013

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