Zorra, meu!

 Meu amigo marciano desembarcou  hoje no Brasil. Não vou dizer onde para não ter correria. Só posso dizer que, antes de vir para cá, deu uma voltinha nos States. 

“Meu, que zorra meu!” — exclamou,  como Rita Lee diria, ao me ver. 

E continuou: “Lá, o Tramp desce a ladeira, nem o eleitorado nem o Wall Street Journal querem mais saber dele. E o governo só tem seis meses que começou”. 

Respirei fundo e perguntei: “Se nem o Murdoch aguenta mais, quanto tempo você acha que o eleitor dele vai aguentar?”

“Em seis meses, a aprovação dele caiu 11 pontos percentuais, de 53% para 42%. Isso nunca aconteceu no sistema solar. Até o fim do ano nem cafezinho vão servir mais pra ele” — respondeu. 

“Mas e a Fox News, pra que lado vai?” — cutuquei. “Vai fazer de conta que nem conhece, nunca viu, não tem nada com isso. Ele vai sumir do noticiário. Vocês sabem o que acontece quando um pop star some das telinhas, né?”

Não precisei responder. E ele continuou:

“Por aqui, estou vendo que o Jair já vai também” — disse, brincando com as palavras. “Esse é cachorro morto, Jair já foi” — falou, fazendo outro trocadilho. 

“Foi pra onde?” — arrisquei. “Pro  fundo do poço! E logo mais pra cadeia. Não sei por que vocês ainda dão colher pra ele, na TV, nos jornais, na internet. Parece que tem grude no cachor… quer dizer, no homem”. 

“Mas é que ele é um poço de votos” — argumentei, fazendo uma provocação. 

“Vai tudo pro saco, como vocês dizem. Jair já era” — falou, brincando novamente com as palavras. 

“Mas então por que toda essa confusão?” — arrisquei. 

“Essa pergunta é minha”— rebateu. “Enquanto vocês derem trela pra eles, vão falar isso e aquilo. Esqueçam eles, não valem mais nada. São fósforos riscados”. 

“Mas o Tramp tem mandato até 2028” — aleguei. 

“Mas vai ser defenestrado muito antes do que vocês pensam. Nenhum governante governa lá sem o apoio total da banca e da bolsa. O Wall Street Journal é só a parte externa de uma rachadura que já está correndo por dentro das paredes de Wall Street. Logo vem tudo abaixo” — disse ele, em tom dramático. 

E não tendo mais nada a dizer, subiu as escadinhas de sua nave e sumiu no céu azul. 

Uma cigana minha amiga me disse ontem que via nas cartas três figuras muito conhecidas indo passear num jardim todo florido que em seguida virava um deserto. 

Um, disse a cigana, usava chapéu cartola de copa alta, parecendo um magnata. O outro usava um calção de corrida e parecia que ia pular o muro de uma embaixada. O terceiro carregava um cacho de bananas para comer no recreio. 

De repente, veio uma tempestade de areia que engoliu tudo e os três sumiram na poeira. Dias depois, foram achados no deserto uma cartola preta furada, um cacho de bananas estouradas e um calção de corrida em petição de miséria. 

Procuram-se Os Proprietários — dizia uma tabuleta fincada no local. 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e de vez em quando ligado nas esferas do outro mundo. 

21/7/2025

     

     

     

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *