Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Foi mais ou menos essa a situação em que ficou o ministro do Supremo Alexandre de Moraes nesta semana que passou, em relação à prisão do Bolsonaro.
Comentaristas, advogados, juízes, desembargadores, promotores e pitaqueiros em geral passaram a semana discutindo se a conduta de Moraes ao mandar o Jair ficar em casa foi legal ou não.
Eu, como mera espectadora, frequentadora de fila do pão na padaria, escuto aqui, e ali, junto tudo, faço uma saladona e meto meus temperos dentro.
O que mais se ouviu foi que, deliberadamente, a família Bolsonaro forçou essa situação, e fez com que Alexandre de Moraes se tornasse o Adélio Bispo do momento.
A prisão, para eles, teria o efeito facada: colocaria Moraes como inimigo do povo, causaria comoção geral entre os adoradores de pneus, entre os correligionários da bancada da bala (já volto a esse assunto), e tocaria especialmente o coração laranja do novo presidente do Brasil, eleito pelos manifestantes que foram às ruas domingo passado, Donald Trump.
De certa forma causou! Nas redes sociais os bolsonaristas de carteirinha não se cansam de defender o mito atacado pelo monstro de cabeça pelada. Jogam toda a culpa sobre o ministro – como se ele tivesse tomado todas as decisões sozinho baseado em provas tiradas do imaginário, ou, como se diz na linguagem popular, provas tiradas do coo. Segundo eles, não houve tentativa de golpe, ninguém pretendia matar o presidente eleito, nem o vice e tampouco Alexandre de Moraes, e que tudo isso é pura intriga dos comunistas que assumiram o poder. Defendem também que o mito não desrespeitou coisa nenhuma ao falar aos seus fiéis nos telefones do filho e do outro adorador lá.
Já na ala partidária do movimento pela anistia aos meliantes, um circo foi montado na Câmara dos Deputados na última terça-feira. Com as bocas vendadas (ufa! Pelo menos por algumas horas deixamos de ouvir aquela enxurrada de textos fakes, decorados e repetidos a todo momento), deputados assumiram o recinto impedindo que a casa trabalhasse em prol do povo (não que isso aconteça com frequência, mas alguns projetos importantes precisariam ser votados com urgência). Mais uma demonstração de que pagamos altíssimos salários para que um bando de vagabundos trabalhe contra seu povo pra defender seus próprios interesses.
Na ala das Pepas, onde me incluo, comenta-se que a prisão domiciliar seria a única atitude que Alexandre de Moraes poderia ter tomado, já que o réu, embora ainda não condenado, tivesse sito alertado sobre o que podia e o que não podia fazer depois que recebeu uma joia do príncipe árabe, digo, uma tornozeleira eletrônica. Ele agiu como uma mãe que promete castigo para a criança que insiste em desobedecer suas ordens. Se ela não aplicar a punição prometida, a porteira fica aberta pra criança deitar e rolar.
A familicia, claro, está inconformada e a toda hora tem uma postagem ou uma entrevista dos filhos jogando bosta no ventilador. Injustificável, ao meu ver. Não entendo por que eles estão reclamando tanto pelo fato de o pai ter de ficar em casa. Quem teria mais motivos pra reclamar seria a Micheque. Aguentar o estrupício em casa, dia e noite, é pá cabá! (Mas, cá entre nós, ela merece).
E, segundo o próprio Eduardo Bolsonaro, prisão domiciliar é mamão com açúcar pra bandido. Vejam sua opinião publicada no Twitter em dezembro de 2017:
“Ladrão de galinha ir para a cadeia e ladrão amigo do rei ir para prisão domiciliar (leia-se mansão), é sinônimo de impunidade”.
Em março de 2018, Bananinha voltou à carga e publicou: “Dá pra levar a sério um país onde existe prisão domiciliar? O condenado é carcereiro dele mesmo!!! Se não conseguem nem monitorar as tornozeleiras eletrônicas, quem dirá cada preso em seu domicílio”.
Diante do que se viu, fica a pergunta: Alexandre de Moraes deveria correr do bicho ou ficar esperando pelo crau dos bolsonaristas?
Ainda na dúvida. Vou voltar pra fila do pão e ver se consigo trazer a resposta.
Até!
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 8/8/2025.

