Micheque, quem diria, detonou a aliança que o marido e os enteados tricotavam com o arqui-inimigo Ciro Gomes para o governo do Ceará no ano que vem. Acionou os manetes do detonador alegando princípios éticos e morais — vejam só!
E não é que ela está certa? Ponto para a líder do PL Mulher, que se bandeou para a candidatura do senador delegado Girão, que não é do partido dela, mas do Novo. Claro que Girão está rindo de orelha a orelha, e nem se deu ao luxo de fazer um agrado ao marido traído. Na última eleição a prefeito de Fortaleza, em 2024, Girão teve reles 1% dos votos. Agora, ganhou de presente o exército de eleitoras evangélicas que Micheque carrega na bolsa.
Pragmatismo exige pelo menos um pingo de compostura. Coisa que Bolsonaro&Filhos não têm, nunca tiveram e jamais terão. Não está no DNA deles.
Na nova cartilha de Micheque, que não é santa e vem de família pra lá de cabeluda, está escrito que quem chama o marido dela de ladrão de galinha não merece o voto da família, que dirá uma aliança de governo. Poderiam chamá-lo de ladrão de colarinho branco?
Micheque e Ciro são duas metades de pepino que não se bicam. Ele tem provas maciças e documentadas das gatunagens do falso Messias: peculato por nomeação de funcionários fantasmas dos gabinetes que teve no Rio e depois em Brasília; apropriação dos salários deles em dinheiro vivo, para pagamento de contas da familícia na boca do caixa, graças aos favores do obediente ex-amigo do peito Fabrício Queiroz; além de algumas toneladas de gasolina por mês para abastecer dois ou três carros do gabinete. Golpes manjados que a Alerj e a Câmara Federal engoliram contentes, de bico calado.
Micheque, por sua vez, não pode engolir Ciro Gomes nem com banda de música, porque o que ele toca no trombone é demolidor. Para o maridão e para ela. Fora o que todo mundo sabe a seu respeito: não é mais primária, cumpriu pena de 3 anos e oito meses por tráfico, além de condutas pouco recomendáveis para uma senhorita de respeito quando arrumou um emprego de secretária no Congresso Nacional.
Mas vamos ao que interessa: a aliança no Ceará foi pelo ralo. E agora que Micheque está com a corda toda, o cenário virou a casa da sogra. Valdemar que se cuide, pois ela pode defenestrá-lo, tal a quantidade de evangélicas fundamentalistas que afiliou país afora desde que foi agraciada por ele com o posto de imaculada presidenta do PL Mulher.
O jeito de deixar o caroço do angu mais palatável depois da pândega é Micheque procurar outro partido da direita. Ou o PL voltar atrás e sair do colo de Ciro. Ou o PL enquadrar Micheque e mandar a presidenta do PL Mulher não se meter nas articulações estaduais do partido. Resumindo, o pau tá comendo na casa de Noca e a briga vai longe, com consequências imprevisíveis.
Quem não deve estar gostando nem um pouco dessa zona é o maridão condenado e apenado que só sabe se faz sol quando é chamado a se banhar do astro-rei num cercadinho da PF.
Para ele, era vital abrir flancos no Nordeste e fazer pelo menos um senador na chapa de Ciro, como queria. O estrategista de cem metros rasos na academia de Agulhas Negras precisa ter, como água de beber, uma base no Senado que lhe garanta uma anistia ainda que tardia, em 2027. Agora aparece a Micheque de mãos na cintura, deitando regra e estragando tudo.
Se Micheque cair fora ou o PL arriar (como parece que vai), o sonho vira bolha de sabão. É dura a vida de marido traído, condenado e apenado a 27 anos de cana sentida, 7 dos quais sem poder sair da jaula para dar uns tapas por aí.
Nelson Merlin é jornalista aposentado e cada vez mais animado com o rebuliço que a falta de um cachorro morto faz para os rumos da direita no Brasil.]
3/12/2025
