A direita radical acostumou-se a encher as avenidas desde 2013. Para isso se vale dos evangélicos e suas lideranças, majoritariamente bolsonaristas e golpistas. Suas manifestações são político-religiosas.
Hoje, a direita faz pouco caso da reconquista das ruas pela esquerda democrática, que no domingo encheu praças e avenidas em todas as capitais e muitas cidades menores, com a presença de artistas famosos, como Gil, Caetano, Chico, Paulinho da Viola, Djavan, Daniela Mercury, Fernanda Takai, Maria Gadu, Débora Bloch, Wagner Moura, Simone e muitos outros.
Foi um prazer ouví-los, muitos octogenários, como Gil, Chico, Caetano e Paulinho da Viola. Mas o povo da democracia ultrajada não foi às ruas para ouvir canções. O som, aliás, não era preparado para isso. O povo também não foi às ruas para ver os artistas. Eles é que se juntaram ao povo contra a sequência de golpes da direita para instalar uma narcoditadura no país, ao pretender uma anistia aos golpistas e, num ousado projeto de emenda à Constituição de 1988, blindarem-se do STF e abrir as portas do Parlamento ao PCC, CV e outras organizações criminosas. Para se safarem da Justiça e tentar salvar a própria pele, tudo é permitido.
Nisto residem nossas diferenças hoje: os golpistas, fascistas e corruptos, de um lado, e os democratas, a decência e a transparência, do outro. O eixo da polarização mudou. A direita abraça a corrupção e entrega essa bandeira à esquerda. A direita também abraça o golpe e o fascismo e entrega à esquerda a democracia, que antes espertamente reivindicava para si, revestida de um anticomunismo que contraria os fatos e a realidade. Não podia durar. Agora os fascistas mostram a verdadeira cara.
Em uma semana nunca vista na história do Congresso Nacional, a direita rasgou a fantasia e saiu do armário. A resposta veio no domingo da mesma semana, em manifestações gigantes país afora. O resultado, antes mesmo do domingo, é que, horas após aprovar a urgência para a anistia aos golpistas, o projeto estava natimorto, trocado por outro de redução de penas, tampouco viável. E a PEC da libertinagem, por sua vez, é sumariamente rechaçada no Senado.
As manifestações de domingo deitam uma pá de cal na cova dos dois projetos.
Deve restar de tudo isso o compromisso da maioria do eleitorado de derrotar cabalmente nas urnas de 2026 o golpismo e o banditismo parlamentar.
O Brasil fez uma profissão de fé na democracia, não às igrejas, de norte a sul do país, com 500 mil pessoas nas ruas dizendo não ao golpe, não ao banditismo parlamentar, não ao trampismo mafioso que visa a subjugar nossa soberania para salvar golpistas provados e condenados.
Sim à democracia, à justiça social e à liberdade. Essas não têm fim. São valores perenes. O resto tem como destino o lixo da História.
Foi um domingo para lavar a alma.
Nelson Merlin é jornalista aposentado e democrata até a raiz dos cabelos.
22/9/2025

