Está na cara que a direita e a extrema direita têm o propósito explícito de impedir que o governo Lula governe. E nessa irmandade nacional se encontram também o PDT e o PSB, que se supunha serem partidos de esquerda, mais o quase falecido PSDB e o PDS, que se supunha serem de centro.
O fato vem à luz não só pela iniciativa infantil do Projeto de Decreto Legislativo contra o aumento de míseros pontos percentuais no IOF de umas poucas operações financeiras, todas executadas por CNPJs graúdos e PFs de mesmo porte.
O Congresso cerrou fileiras para proteger os ricos que o controlam, em detrimento do povão que o elege. Mas isso não é tudo. A cereja do bolo era inviabilizar o que resta de governo Lula até a campanha eleitoral do ano que vem.
É infantil porque o governo tem a faca e o queijo na mão para passar por cima do tal PDL como um trator. Não o fará se não quiser. A regulação do IOF é uma prerrogativa do governo central, que pode aumentar a alíquota quanto quiser e fazê-la viger quando achar melhor, sem nenhuma submissão ao princípio da anualidade.
É a lei. É a Constituição Federal. Ao ignorar a lei, a Câmara e o Senado se colocaram, infantilmente, contra a Constituição. O PDL é, portanto, uma ilegalidade que, se levada ao STF por quem quer que seja — não precisa ser o Governo —, terá como destino uma cacetada de bom tamanho no coco do Legislativo federal.
Notem que escrevi coco, e não outra coisa. É porque tenho respeito por nossa Casa de Leis, embora não tenha nenhuma admiração pela maioria dos que nela se encontram a partir do impeachment de Dilma Roussef.
A cacetada do STF é só uma questão de tempo. Mais demorado é o tempo que o governo vai perder em bolar alternativas para entrarem em vigor antes que seja tarde demais. É preciso fechar as contas deste ano e do próximo, deixadas abertas pela recusa do Congresso em reduzir as isenções fiscais, os altos salários no setor público e o imposto de renda de quem ganha até R$ 7.000,00 mensais, extinguindo o IR abaixo de R$ 5.000,00 — o que injetaria dinheiro na economia e traria receita tributária para o governo, pelo giro maior da moeda.
O Congresso está muito mais de olho no próprio umbigo do que na barriga vazia dos milhões que vão votar no ano que vem. É uma demonstração de miopia e amadorismo bater pé contra o governo, que está certo em mexer no IOF para os ricos pagarem mais e inverter a lógica milionária tupiniquim de que são os pobres que devem sustentar os ricos.
Espero ler em algum repórter ou analista atilado de nossa imprensa cada vez mais desconectada do real, uma boa explicação para o PDT e o PSB terem se bandeado para o lado dos coleguinhas da direita e extrema direita. Qual o recado disto ao governo? Que estão aborrecidos com Lula? E por assim estarem, resolveram pisar no pescoço dos mais pobres? Logo eles, da esquerda?
Por fim, quero dizer que se a matéria é de exclusiva prerrogativa do Executivo, por que o Haddad e outros se deram o trabalho de amarrar o pavor numa Medida Provisória? A mim isto parece ser de uma total desnecessidade, perda de tempo, passeio no parque, uma média com pão e manteiga com o Congresso.
E o resultado só posso concluir que foi uma cusparada no governo e governistas. Não sabiam que estão tratando com jararacas? Deram sopa e elas deram o bote.
Bem feito! E que sirva de lição. Lugar de jararacas é no mato ou no Butantã. Não debaixo das cobertas.
Nelson Merlin é jornalista aposentado e especialista em cobras e lagartos desde pequeno.
27/6/2025