Leila e Milton se gostavam, eram amigos. Me lembrei disso no final do dia em que ela faria 80 anos. Não sei onde li sobre isso, e não interessa. O fato é que eram amigos, no Rio de Janeiro em que viviam os dois, a niteroiense da classe 1945 e o carioca da Tijuca mineiro de criação e coração da classe 1942.
Foi muito bom, foi uma delícia me ocorrer a lembrança dessa amizade no final do dia dos 80 anos de Leila para afastar da cabeça a tristeza, a decepção com a Seleção Brasileira de futebol, massacrada pela Argentina por 4 a 1 numa das piores apresentações do time canarinho em toda a História.
Fiquei imaginando a mulher de beleza extasiante e o sujeito feio que nem a fome – duas das figuras mais lindas, mais maravilhosas que este país já produziu – tomando uma de pé em um boteco de Copacabana ou de Ipanema, ali pelo final dos anos 60, comecinho dos 70. Ele seguramente ia de cachaça, ou vodca, ela, de chope.
Eram de fato da mesma geração, três anos apenas de diferença. Ele virou astro da música em 1967 com a vitória de “Travessia”, dele e do amigo Fernando Brant, no Festival Internacional da Canção. Ela tinha virado estrela luminosa do cinema em 1966 com Todas as Mulheres do Mundo, do ex-namorado Domingos Oliveira, uma das mais belas declarações de amor que já foram feitas nestes 130 anos de filmes, moving pictures, movies.
Do que será que falavam Leila e Milton nos botequins da vida?
Ah, seguramente histórias do amor da vida da morte. Talvez até do filme La Vie, L’Amour, La Mort, que, afinal, é de 1969, e eles seguramente viram.
Leila passou por este planeta com a velocidade de um cometa. Morreu em 1972, sem sequer chegar aos 30 anos, naqueles tempos em que se cantava que a gente não deveria confiar em ninguém com mais de 30 anos. Morreu sete anos antes de Neil Young cometer o verso idiota “better to burn out than fade away”, melhor se queimar do que desvanecer. Milton chegou aos 80 que Leila teria agora e passou deles, como tantos de seus colegas de geração, colhendo belíssimas flores em vida, como desejava mestre Nelson Cavaquinho.
Não sei se uma Portela ou uma Mangueira um dia fará um samba-enredo em homenagem a Leila, como a escola de Paulinho fez para Milton neste ano da (des)graça de 2025, diacho…
Mas sei que Milton, em 1980, oito anos depois que sua amiga se foi, fez aquela beleza de homenagem a ela, no disco Sentinela. O título, delicioso, lindo, nunca soube se é de Leila, se é de Milton – “Um cafuné na cabeça malandro eu quero até de macaco”.
Brigam Espanha e Holanda
Pelos direitos do mar
O mar é das gaivotas
Que nele sabem voar
Brigam Espanha e Holanda
Pelos direitos do mar
Brigam Espanha e Holanda
Por que não sabem que o mar
Por que não sabem que o mar
Por que não sabem que o mar
É de quem sabe amar
A voz de Leila recitando os versos que ela escreveu é uma das melodias mais belas que Milton – esse autor de tantas, tantas, tantas maravilhosas melodias – já colocou em disco.
25 e 26/3/2025
Nota do Administrador: Não tenho a menor idéia do que isso aí quer dizer, mas nosso colaborador diz que “é um suelto, e um suelto não tem mesmo explicação”.
Delicia ler, obrigada!
Obrigada, Sérgio!
Leila nunca morreu. Ela se encantou.
Nos deixou Janaína.
Foi minha musa inspiradora.
Por causa dela, copiando ela, sem vergonha nenhuma, exibi minha barriga de grávida num biquíni no Posto 9 da Praia de Ipanema
Chorei rios de lágrimas quando ela se foi e deixou para trás uma filha tão pequena.
A minha tinha acabado de nascer.
Por causa dela, em memória a ela, ia brincar o carnaval na Banda de Ipanema.
Leila foi uma mulher intensa, como você escreveu, passou como um meteoro, mas nos deixou o legado de uma estrela que nasceu para brilhar eternamente.
Eu era encantada com essa linda mulher. Achava incrível seu jeito de ser, de falar. Acho que sempre fui prafrentex, pois minhas amigas achavam estranho eu admirar aquela menina. Lindo seu texto!