Jack

Jack, o Estripador, é uma boa alma. Todos admiram suas maneiras educadas, e nem falamos da destreza na faca. O apelido veio por sua habilidade de açougueiro. Não coube bem a quem se chama Antonio dos Anjos.

Sem se contar que as peças de carne passadas pela faca destinam-se ao bem. Têm como propósito favorecer os fregueses mais velhos, com dentição ruim. Elimina nervos, pequenos ossos, e outras impurezas.

Perfeito… mas com aquele apelido? Quem não o conhece vai confiar nele? Pensou em se livrar da situação. Trocar o epípeto. Jack por Jacó, talvez? Mas se é gaúcho da gema!

Veio então o casamento da filha de notável fazendeiro, e candidato a prefeito, na cidade riograndense do sul. Concebeu-se a festa, refinada. Bufê de pratos finos, com sotaque francês? Frutos do mar especiais? Massas, sim, como as dos melhores restaurantes paulistanos? Não! Não! E não!

Sim: uma grande e bem cuidada churrascada. Chamem Jack, o Estripador!
Acabaria sendo uma festa também para os pobres da cidade, pois a carne de segunda, agregada à de primeira, foi destinada a eles… O preparo, nesses lares simples, não teve os mesmos cuidados dispensados por Jack, obviamente. Mas quem não sabe fritar um bife?

]Um subproduto destes fatos surpreendeu. As eleições municipais se aproximavam. O gesto do candidato com a distribuição da carne agradou até os que não a receberam. Geraram um sentimento coletivo de gratidão.

Assim… o candidato, que andava mal nas pesquisas, reelegeu-se com expressiva margem de votos. Pouco tempo depois, saiu-se com uma idéia notável para consolidar sua preferência. Criar o Restaurante Popular, com pratos simples, quase de graça.

Quem comandaria o lugar? Nada mais oportuno que fosse nosso Jack, agora popularmente tratado sem o “sobrenome”. No entanto… foi tudo por água abaixo, quando o Luizinho, uma raposa que assessorava o prefeito, fez a ele singela pergunta: “E se o Jack resolver ele próprio sair candidato?”

O projeto do restaurante morreu ali. Mas todo ano, no Natal, Jack recebe da Prefeitura um panetone.

Este texto foi originalmente publicado no blog Vivendo e Escrevendo, em 14/1/2025. 

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