Hoje e ontem

Além de defender a liberdade de expressão para agredir, caluniar e inventar mentiras — erigidas por eles em política de governo —, o pessoal da extrema direita quer a liberdade total para a baderna e a corrupção.

É o que está exposto nos dois projetos pelos quais esse pessoal tem  trabalhado dentro de um Congresso conservador e avesso às conquistas populares dos últimos 40 anos, quando se iniciou o primeiro governo democrático após a destituição da ditadura militar de 1964, que infernizou o país até 1985.

O primeiro projeto é o da internet sem lei, a internet do vale-tudo. Como tem que passar um pouco de vaselina e óleo de peroba para a coisa transitar, admitem que um pouco de regras deve existir para o gado mugir na internet, mas para quem tiver mandato parlamentar não tem que haver restrições. Podem tudo, em nome do seu povo eleitor. 

O segundo projeto é a junção de dois: um para anistiar os golpistas de 8/1/2023, abrindo caminho para anistiar o Chefe inelegível da tentativa de golpe militar pós segundo turno de 2022, e outro para a rigor abolir a Lei da Ficha Limpa, que pune com oito anos de inelegibilidade os candidatos condenados por corrupção. Neste caso, o óleo de peroba ficou escasso e eles admitem que o corrupto fique de fora do circuito eleitoral por somente 2 aninhos… Um carinho nas orelhas do corrupto e um beijo na boca dele. 

E assim anda a extrema direita, ciscando no quintal da democracia para tirar algum proveito pessoal ou grupal das liberdades políticas instituídas pela Constituição de 1988, que sepultou o cadáver decomposto da ditadura que tanto admiram. 

Um pouco diferente, mas não tanto, é a direita digamos mais convencional, encarnada em figuras retrógradas como o governador de Goiás, em nulidades como o governador de Santa Catarina, em obscuridades como o governador do Paraná e em postes oportunistas como o governador de São Paulo. 

Essa direita encobre a outra e tenta levar vantagem no jogo de empurra dentro do curral. Não há nenhum projeto de algo palpável em benefício da população, sequer para o eleitor da extrema direita. O que há é politicagem para levar casquinhas para casa. Não há discussão de idéias, apenas verborragia e vomitório contra os oponentes políticos. 

A direita e a extrema direita só têm um projeto, inscrito na testa: o golpismo e a volta da ditadura militar derrotada em 1984 com a eleição indireta de Tancredo Neves — que deveria ter sido direta, mas os milicos e os lambe botas da Arena, o partido militar, liderado por José Sarney (não esqueçamos), conseguiram impedir que o Congresso aprovasse o projeto do deputado Dante de Oliveira e ignorasse o clamor das ruas país afora.

Lembro essas coisas pois, nestes dias, recordou-se a posse de Sarney ante a hospitalização de Tancredo. Mas não vi nada escrito apontando a usurpação de Sarney ao legítimo substituto do presidente eleito. Era Ulysses Guimarães, presidente da Câmara Federal, que deveria ocupar temporariamente a vaga, à espera da recuperação do legítimo presidente ou, no caso de sua renúncia ou morte, convocar nova eleição. 

Ulysses achou que o risco de uma reviravolta de consequências imprevisíveis era, de zero a 10, muito acima dos 10 e deu a mão a Sarney para que subisse a escada, logo de uma vez. Atropelou a Constituição vigente à pouca, mas foi por uma boa causa. 

O grande Ulysses jaz no fundo das águas do mar de Caraguatatuba, enquanto Sarney, o ilegítimo, reina ainda neste mundo de meu Deus. 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e saudoso da época em que ainda se fazia política (não todos) com vergonha na cara. 

19/3/2025

   

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