Só deu ele. A imprensa do mundo inteiro esqueceu Trump e suas insanidades, largou pra lá Putin e suas atrocidades na Ucrânia, deixou de lado o massacre israelense contra acampamentos de deslocados no sul da Faixa de Gaza.
As manchetes e o grosso do noticiário foram para o papa que acolheu os desvalidos, abraçou as crianças, atacou a pedofilia na Igreja e fora dela, abriu o coração ao público LGBTQIA+, atualizou os fundamentos do cristianismo, criticou os poderosos e defendeu a construção de um mundo mais humano, igualitário e cristão.
Só faltou Francisco falar com os passarinhos. Mas ele não era um místico. Francisco era um padre tardio em carne e osso que viveu as misérias desse mundo, deu fuga e proteção aos perseguidos pela ditadura argentina, não se curvou aos poderosos e fez dos pobres o motivo de sua vocação ao sacerdócio.
Se João XXIII reformou a Igreja na segunda metade do século passado, Francisco deu um passo gigantesco à frente ao trazer a Igreja para o centro dos problemas do mundo moderno.
Ele fez da Igreja um fórum de discussão e reflexão sobre o destino da humanidade.
A partir dele os cristãos devem escolher se querem um mundo de retrocessos e de recorrência das trevas do passado, ou se querem seguir na evolução da consciência humana para um futuro em que os homens não serão mais o lobo do homem, mas os seres que farão da justiça e da igualdade os instrumentos para a emancipação da humanidade.
É com essa reflexão que me despeço do grande Francisco, aquele que não falou com os passarinhos, mas ao coração dos homens.
Nelson Merlin é jornalista aposentado e admirador de Francisco, o jesuíta que com seu humanismo faz-me esquecer dos monstros da Inquisição.
22/5/2025
Nota do Administrador: A foto fantástica é do Osservatore Romano, e foi distribuída pela AFP. Não creio que o jornal do Vaticano vá reclamar de eu republicá-la.