Camisa de força

Acho que o Trump vai ganhar uma estátua em praça pública aqui no Rio Grande. Não sei onde, mas que vai, vai. E a homenagem deve se repetir em muitos estados, até mesmo fora do Brasil. É que ele acaba de fazer pela soja o que nenhum governo estadual ou nacional brasileiro conseguiu em décadas. Colocou toda a produção brasileira desse grão tão cobiçado nas mãos endinheiradas da China. 

Só numa primeira tacada, de abril ao próximo junho, serão embarcadas para os portos chineses 30 milhões de toneladas brasileiras, argentinas e uruguaias do precioso grão, para gáudio de porcos, gado e galinhas da enorme nação asiática. 

Negócios da China são vapt-vupt. Com quase 1,5 bilhão de habitantes e um número desconhecido mas  fenomenal de quadrúpedes e penosas para alimentar, a China não pode brincar em serviço. O grandalhão laranja aplicou seus atos insensatos contra a China e o mundo inteiro em 2 de abril. Em menos de um mês, os chineses tomaram as providências. 

E  é irreversível. Contrato é contrato, tem que entregar. E alguém teria a coragem de não entregar para alegrar o laranjão? Business is business, mister! 

Estou curioso para ver qual será a reação da Casa Branca aos países aqui do Cone Sul. Vai fazer represália ao amigão Milei? Ele é seu modelo inspirador na área das sumárias demissões coletivas de funcionários do Estado profundo (isto é, do governo), cujas estruturas os extremistas da direita odeiam. Vai dizer o que de Lula e do uruguaio Yamandú Orsi? Que são comunistas? Mas até o capitalista mais idiota faria a mesma coisa! 

Mais curioso ainda estou para saber como vão reagir os milhões de plantadores de soja nos EUA. Eles já imploraram ao mister que se ele não der marcha a ré nesse quesito, todos vão quebrar. 

Trump já começou a dar pra trás em alguns itens, prometendo reduzir tarifas sobre os automóveis importados. Com certeza não foi porque ficou com dó dos países exportadores, mas porque os consumidores americanos estão pelas tampas. 

E vão continuar. Mais manifestações estão marcadas de norte a sul dos EUA. Até o genial Elon Musk, debaixo de prejuízos bilionários na Tesla, tomou a genial decisão de saltar da canoa furada do chefe antes que seja tarde demais. 

Para piorar, o PIB do primeiro trimestre deste ano mostra queda de 0,3% — maior do que o esperado, de 0,2%. Para se defender, a Casa Branca diz que a culpa é do Biden, claro. Será que cola? 

Pesquisas de opinião registram que nos últimos 80 anos nenhum presidente perdeu tanta popularidade nos primeiros três meses de mandato nos EUA como mister Trump. 

Como se sabe, eles adoram pesquisas e a maioria avassaladora guia suas decisões pelos resultados das bolsas de apostas. Trata-se de um esporte nacional tão popular quanto o beisebol e as loterias. Hoje, a grande aposta deve ser quanto tempo o mister vai se aguentar na cadeira. 

Ele já dá mostras de que suas insanidades estão incomodando além da conta. Dias atrás pediu paciência aos que ainda não viram aonde ele quer chegar! 

Mas teve uma recaída há pouco, despencando de sua modéstia, ao intitular-se presidente dos EUA e… do Mundo. Beleza! Ele é o Degas… o primeiro político presidente a elevar a loucura ao status de pilar central de um governo. 

Doidos são assim mesmo, até que o pessoal do manicômio é chamado, aproxima-se furtivamente, como quem não quer nada, e joga a camisa de força. 

Aí, já era! 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e que já presenciou nesta curta vida de 79 anos — que para a eternidade não é nada — um louco babando sendo transportado em camisa de força, como saco de batatas. Triste! Medonho! Mas o cara estava mordendo todo mundo e gritando que era o Napoleão. Eles têm uma coisa com esse corso que escapa ao entendimento dos reles mortais como eu. 

2/5/2025

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