Este ano o Brasil tem dois concorrentes de peso ao tão cobiçado Oscar. Fernanda Torres, brilhantíssima, foi indicada para concorrer como melhor atriz pelo seu desempenho em “Ainda Estou Aqui”, que também concorre ao prêmio de melhor filme e melhor filme internacional.
O outro indiciado, digo indicado, é Go Already Pocketnaro – nome artístico internacional do ator brasileiro Jair Bolsonaro – protagonista do filme “Al Gema”, patrocinado pelo príncipe da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman e dirigida pelo brasileiro Alexandre de Moraes.
O filme conta a trajetória de um aspirante a graduado militar mas que teve seus sonhos interrompidos quando ainda era apenas um tenente e tentou incendiar quartéis, em sinal de protesto contra os baixos salários.
Diante da impossibilidade de seguir a carreira militar, Go Already resolveu partir para a política vislumbrando uma vida nababesca sem muito esforço. E foi exatamente o que aconteceu. Em 1991 se elegeu deputado federal, cargo que ocupou por mais seis mandatos seguidos. Já no primeiro, Jair, como é conhecido no Brasil, deixou claro que a Democracia não era seu forte. Em um encontro político realizado no Rio Grande do Sul, defendeu o “regime de exceção” e “congelamento do Congresso” – “Há leis demais que atrapalham. Num regime de exceção o chefe, que não precisa ser militar, pega uma caneta e risca a lei que está atrapalhando”.
Durante os 28 anos em que cumpriu os sete mandatos como deputado federal, apresentou poucos projetos, e quase todos eram para favorecer a classe militar. Nesse período todo teve tão somente dois projetos aprovados. Usou o plenário para homenagear o torturador Brilhante e Ustra e instaurou o uso da chamada rachadinha em proveito próprio. Prática que ensinou para os filhos e da qual fazem uso até hoje, que facilitaria as vultosas aquisições imobiliárias da família, algumas em dinheiro vivo.
Em 2019 se tornou Presidente da República e seguiu como tal até 2022. Mostrou-se um presidente negacionista diante de uma pandemia de Covid, se entregou de corpo e alma ao Centrão, fazendo seu fiel escudeiro, o general Augusto Heleno, engolir a musiquinha cantada por ele, quando tentava querer parecer honesto: “Se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão”, torrou o dinheiro do brasileiro mandando o laboratório do exército fabricar toneladas de cloroquina que não serviam pra nada, e, pior, arquitetou um golpe de Estado que impediria que o presidente eleito assumisse o poder (descobriu-se depois que havia até planos de matar o presidente e seu vice). No lugar do legitimamente eleito pelo povo, ele assumiria o poder para todo o sempre, realizando assim o sonho de pegar sua caneta e riscar as leis que estão atrapalhando.
Hoje ele está inelegível, com grandes chances de ser preso por ter atentado contra a Constituição e sem seu passaporte, impedindo assim que fosse assistir à posse de Donald Trump da arquibancada junto com sua esposa e seu filho.
Infelizmente vou ter de dar spoiller do filme, mas é necessário. A cena que o levou para o caminho do Oscar foi sua magistral interpretação ao se despedir da primeira-dama da noite no aeroporto. Nesse momento, seus ardorosos fãs se debulharam em lágrimas no cinema.
O filme promete. Pela reação do público que assistiu à pré-estreia, parece que vai ser um sucesso de bilheteria.
Em breve “Al Gema” vai estar num cinema perto de você.
Não perca!
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 24/1/2025.