Não sei por que cargas d’água (expressão da época do bonde puxado a burro) fui envolvido por insidiosa trama familiar. Mirava um acessório de uso profissional que me era caro. A peça, é verdade, tinha um tempinho de uso, hã… duas décadas. Tratava-se de uma bolsa de lona verde, com duas divisões, e, costurados fora, dois bolsos. Como as que se vendiam em lojas de artigos para pesca e caça, quando esta não era proibida.
Esse tipo de bolsa foi-me muito útil nos memoráveis tempos em que o Jornal da Tarde nos mandava para pontos recônditos do País. Varávamos mata, nos sujávamos em lamaçais, sem falar nos restos queimados por grandes incêndios.
Na área urbana também vinha bem, por sua praticidade. A última que comprei, objeto do atentado, foi ficando velha, desbotada, com uma carinha meio ruim, mas continuava íntegra. A família achava um despropósito eu não trocá-la por uma nova, de couro, mais apresentável. Ora, eu reagia. Por que, se esta ainda é tão boa?
Não que tivesse apego afetivo. Também usei muito um chapeuzinho de pano, bege, para me proteger da inclemência do sol em certas matérias. Estes tinham uma feição mais urbana, embora fossem de uso mais comum nas praias. Chapeuzinho na cabeça, bolsa pendurada no braço. Nenhum entrevistado aparentou estranheza, quando eu chegava assim equipado.
Então, mudei com a família de casa para apartamento, o que ensejou a troca de muitos itens velhos por novos. No dia seguinte à mudança, viajaria para um frila em Goiânia. Onde está minha bolsa? Não achei. Nunca mais achei. Bem, mudanças são assim mesmo, coisas se perdem.
Há duas semanas a verdade surgiu, graças à confissão de uma cúmplice. Enquanto eu estava fora, minha dedicada e saudosa Haydee tomou uma decisão, apoiada por Mônica, nossa filha, e Dena, minha cunhada. Jogou a bolsa no lixo!
Esta crônica foi originalmente publicada no blog Vivendo o Escrevendo, em 28/7/2025.
