Agora, a Índia

O Brasil não é mais o único país taxado com 50% pelo Napoleão de Hospício do Norte. Agora temos a companhia da Índia, com seu bilhão e meio de habitantes e muitas bombas atômicas em seu arsenal. 

A Índia se sente traída; o Brasil, indignado. Mas que falta nos faz uma bomba atômica! Não dou uma semana para o Napoleão arriar as orelhas para a Índia. 

Trata-se de uma democracia com um governante conservador. Se o defeito é a democracia, o Napoleão terá que engolir. E engolir também o fato de que seu ataque tarifário deixará em muito má situação as empresas americanas estabelecidas lá. Não são poucas e são poderosas, muitas de alta tecnologia. Exportam aos montes para os EUA, onde tudo da Índia ficará 50% mais caro. 

O Brasil não tem a bomba nem as linhas de produtos de alta tecnologia. O que temos para enfrentar o Napoleão no campo de batalha comercial são as milhares de médias e pequenas empresas nos EUA (cerca de 4 mil) que compram de nós o café, a carne bovina, carne suína, presunto, suco de laranja, ovos de galinha etc, para o breakfast e a hora do lunch dos gringos. Essas empresas é que estão pressionando o Napoleão a retirar as tarifas impostas, sob pena de irem à falência — motivo mais que suficiente para fazerem piquetes na frente da Casa Branca. 

Na frente política, o primeiro-ministro Narendra Modi foi curto e grosso: a Índia compra de quem quiser o que quiser, os EUA que se metam com sua vida. O Napoleão de Hospício do Norte disse que ia retaliar  com 25% adicionais se ela continuasse comprando petróleo da Rússia. Ela continuou e levou a taxa.  

O Brasil compra diesel da Rússia. Será mais grave ou menos grave que petróleo? O Napoleão está pensando, fazendo as contas, porque até o momento não disse nada. Mas já se dá como favas contadas que a qualquer momento virão mais taxas  para cá por conta disso. Se mandou brasa pra cima da Índia que tem a bomba, que dirá pra cima do Brasil, que não tem bomba? 

Para não comprar essa briga, o Brasil sem bomba terá que procurar diesel em outro lugar. Será que vai? O Brasil também compra fertilizantes da Rússia. Continuará comprando? 

Esses impasses poderiam ir para uma mesa de negociação com os EUA, se o Napoleão estiver a fim de negociar. Nós temos terras raras, que eles não têm. Que tal trocar diesel e fertilizantes deles (e poderíamos colocar mais coisas na cesta) por licenças de exploração de terras raras na plataforma continental do sul do Brasil? O Rio Grande vai gostar: a jazida fica bem aqui em frente, no limite do mar territorial e a alguns quilômetros de profundidade. E é enorme. 

Teríamos uma receita extra e perene em royalties, que seria muito bem-vinda aos cofres do Estado. Ao mesmo tempo, a gauchada ganharia um motivo para bater palmas ao Chocolatão, que até hoje só nos deu tainhas em profusão. 

Para quem não sabe, Chocolatão é o nome, nem sempre carinhoso, que os gaúchos dão ao mar que banha suas praias. É raro, raríssimo, termos águas azuis abaixo de Torres até o Chuí, em algum dia do ano. Em Torres temos, abaixo é aquela cor medonha trazida por um tipo de algas e plâncton que se originam do Pólo Sul e se dão muito bem em águas frias. 

Bem, o problema é que os EUA também compram diesel da Rússia. O deles não é suficiente nem para eles. Então, que nos deixem em paz para  comprar o da Rússia, tchê! 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e cheio de ideias. 

8/8/2025

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