Estou pensando em quem será que levou vantagem no ataque de Israel ao Irã, países governados pela extrema direita judaica e islâmica, respectivamente.
O Trump não foi. Pelo contrário. Está mais desmoralizado do que antes, agora que a própria CIA, a poderosa Central de Inteligência dos EUA, está dizendo nas bochechas alaranjadas do chefe que os bombardeios dos B2 — chamados de ases do juízo final — nem fizeram cócegas nos bunkers subterrâneos que abrigam as usinas atômicas e arsenais de mísseis do Irã em Fordow, Isfahan e outras localidades ao sul de Teerã.
Trump está considerando seriamente demitir a diretora da CIA por desmenti-lo em público. Só que toda a imprensa local está dizendo que os danos causados foram superficiais e se atrasarem o programa nuclear iraniano não vai ser por mais de quatro a seis meses.
Imagens de satélite das montanhas bombardeadas mostram, daquele jeito que só especialistas em abalos sísmicos conseguem ver, que as bombas de 13 toneladas lançadas pelos B2, guiadas remotamente por comandos e satélites a milhares de quilômetros dali, entraram no solo pelas aberturas da tubulação de ar das instalações subterrâneas. (Na foto acima, o local da usina de Fordow, antes e depois dos bombardeios.)
No entanto, se tivessem chegado aos paióis de bombas do complexo, bem como ao urânio enriquecido a mais de 60%, as montanhas teriam ido pelos ares. E estão lá, ao que parece íntegras, impassíveis, eternas. Uma ou outra depressão pode ser notada no terreno, mas aparentemente o arraso ficou só nisso.
Medições feitas pelo Irã não detectaram vazamentos de radiação. Ela também poderia ser detectada pelos caças israelenses, que voavam livremente sobre Teerã e as cidades mencionadas. Não houve notícia disto. Se não houve radiação, as temidas centrais nucleares não foram atingidas.
Ao que tudo indica, a CIA e a imprensa norte-americana têm razão. Os ataques deram chabu. Ou foram feitos para dar chabu mesmo. Não há vitória a festejar — a lamentar somente as mortes desnecessárias de centenas de civis inocentes pelos mísseis e caças de Israel.
E por não haver vitória a comemorar, todos se declaram vencedores da guerra. Israel, EUA e Irã soltam fogos de artifício. O Hamas, o Hezbolah e os houthis também. Putin deve ter passado um sabão em Trump, a quem já havia advertido a não entrar na guerra. Xi Jinping sorri, como sempre. E as crianças, mulheres e idosos de Gaza são alvos das tropas israelenses com armas e munições de Trump, nos corredores de alambrados por onde os palestinos devem andar até os veículos de ajuda humanitária que trazem alguma comida, algum remédio e peças de roupas. Num só dia, 40 civis palestinos foram mortos nas filas.
Por que atiram neles?
Nelson Merlin é jornalista aposentado e ainda estupefato com a crueldade de gente que diz pertencer à espécie humana.
29/6/2025
Análise muito bem apropriada, Melin: comemorar o quê? Enquanto isso, ainda morriam pessoas assassinadas na fila da comida. Pobre Gaza!