Um discurso firme, duro, a favor da Ucrânia, a nação soberana invadida, atacada, violentada pelo ditador carniceiro do Kremlin. Um ataque firme, duro, ao magnata insano, doente, criminoso, que tem imensas chances de voltar a presidir a democracia que tentou destruir nos seus últimos dias na Casa Branca, incentivando a invasão do prédio do Parlamento – seguido de estrepitosas vaias dos atores, diretores, roteiristas, fotógrafos da Meca do cinema mundial à figura nojenta.
Belíssimas apresentações das cinco canções indicadas – da singeleza de voz e piano de Billy Eilish e Finneas O’Connell, sozinhos no imenso palco, ao show bombástico, fantástico de Ryan Gosling cantando, no meio de algumas dezenas de dançarinos, “I’m just Ken”, ambas do filme Barbie, de Greta Gerwig, aquele deslumbre.
Uma emocionante apresentação da tradicional homenagem “In Memoriam” – o adeus às pessoas do cinema mortas ao longo do ano que passou -, iniciada com um trechinho do documentário Navalny, premiado ano passado, mais um toque político em uma cerimônia marcada pela política.
Uma beleza de clipe com tomadas de para lá de uma dúzia de filmes para homenagear uma categoria que não recebe prêmios, os stunts, os dublês.
Foi uma beleza a festa de entrega dos Oscars de 2024, a 96ª, a sei quantigésima que vi na vida. Quinquagésima? Sei lá. Pode ser. A primeira televisão que tive em casa foi 50 anos atrás, mas é possível que eu tenha perdido uma ou duas das festas do Oscar ao longo deste meio século…
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Creio que a melhor sacada desta 96ª festa dos Academy Awards foi o formato de entrega dos prêmios aos melhores atores e atrizes. Para cada uma das entregas dos quatro prêmios, pela primeira vez foram reunidos no palco cinco atores/atrizes já premiados/as. Assim, para anunciar as indicadas à estatueta de melhor atriz coadjuvante, ocuparam o palco do Dolby Theater Lupita Nyong’o, Mary Steenburgen, Regina King, Rita Moreno e Jamie Lee Curtis. Cada uma delas apresentou uma das candidatas. Deu Da’Vine Joy Randolph, por Os Rejeitados.
Mais adiante, Ke Huy Quan, Sam Rockwell, Tim Robbins, Christoph Waltz e Mahershala Ali apresentaram os candidatos ao prêmio de ator coadjuvante, vencido por Robert Downey Jr. por Oppenheimer.
Oppenheimer, como já se sabia, já se esperava, foi o grande vencedor do Oscar 2024 – e Cillian Murphy levou o prêmio, em que os cinco indicados foram apresentados por Brendan Fraser, Nicolas Cage, Matthew McConaughey, Ben Kingsley e Forest Whitaker.
Para apresentar as cinco indicadas ao prêmio de melhor atriz, os organizadores da festa reuniram no palco, da esquerda para a direita na foto, Jessica Lange, Michelle Yeoh, Charlize Theron, Jennifer Lawrence e Sally Field. Meu Deus do céu e também da Terra, que bela seleção!.
A premiada foi Emma Stone (entre Michelle Yeoh e Charlize Theron na foto), por Pobres Criaturas – e a moça, nascida em 1988, quando minha filha já estava com 13 aninhos, tornou-se a mais jovem atriz a levar para casa duas estatuetas daquele sujeito folheado a ouro não possuidor de membro masculino . Vixe Maria Mãe de Deus. Kate Kepburn precisou ser indicada por nove filmes até conseguir vencer pela segunda vez, em 1968, por Adivinhe Quem Vem Para Jantar. Estava, então, com 61 anos. A garota Emma Stone faz 36 este ano. ***
Ah, o passar do tempo…
Robert Downey Jr. foi indicado ao Oscar pela primeira por Chaplin, em 1993. Era então um garotão de 28 anos. De lá para cá, como tantas centenas de pessoas famosas, como tantos milhões de pessoas sem fama, mergulhou nas drogas.
Como foi abençoado com imenso talento, continuou desempenhando maravilhosamente sua arte. Tem hoje 77 prêmios e 152 indicações no total. Mas ao Oscar, o prêmio de maior visibilidade entre todos os que existem, o Nobel do cinema, só havia recebido uma única outra indicação, por Trovão Tropical, de 2009. Nem sei que raio de filme é esse.
Pois bem. Na festa de número 96 do Oscar, pegou a estatueta – e, no discurso de aceitação, falou do tempo em que foi junkie. Tenho imensa admiração por gente que consegue sair do fundo do fundo do fundo do poço do vício. Minha admiração por esse sujeito, portanto, é dupla – como ator, e como ser humano.
E, ah, o passar do tempo, episódio 2: foi uma bela lembrança a trazida pelo apresentador Jimmy Kimmel de que fazia 47 anos que Robert DeNiro e Jodie Foster haviam trabalhado juntos em Taxi Driver e sido indicados ao Oscar, ele na categoria de melhor ator, ela na de melhor atriz coadjuvante. Este ano estavam lá de novo, ele indicado por Assassinos da Lua das Flores, ela por Nyad. Não levaram a estatueta.
Martin Scorsese, que realizou Taxi Driver, este ano concorria por Assassinos da Lua das Flores; o filme recebeu dez indicações ao Oscar, mas não levou nenhum. Sentado na poltrona bem atrás da de seu amigo De Niro, o magistral diretor passou pela mesma situação que seu colega Steve Spielberg havia experimentado na cerimônia de 1986, quando A Cor Púrpura concorreu a 11 prêmios – e não levou nenhum.
Da mesma maneira, não levou nenhum dos sete Oscars a que foi indicado o belíssimo Maestro, de e com Bradley Cooper – e que teve Scorsese e Spielberg como produtores executivos. E com o delicioso Barbie de Greta Gerwig quase aconteceu a mesma coisa. Fenômeno de bilheteria, um dos filmes mais falados do ano, Barbie concorria em oito categorias, mas ficou apenas com o de melhor canção para “What Was I Made For?”, de Billie Eilish e Finneas O’Connell.
Greta Gerwig e Bradley Cooper, dois dos maiores talentos surgidos em Hollywood nas últimas décadas, não deveriam ficar tristes. Basta lembrar que nem Charles Chaplin nem Alfred Hitchcock ganharam um único Oscar de melhor diretor.
Agora, ouvir o apresentador da festa Jimmy Kimmell dizer para cerca de 20 milhões de norte-americanos e para gente todo o planeta que Donald Trump deveria estar preso… Ah, meu, não tem preço! Viva a Academia!
10 e 11/3/2024
Seus textos são ótimos. Parabéns!
Muito boa a narrativa,me senti vendo a festa,quanto a prisão de Donald Trump,seria bom demais pra ser verdade.
Vivaaaa! Como sempre, você arrasou! Maravilhoso texto! Adorei!