Jornalista de chapéu, como nos velhos e elegantes tempos, podia ser visto nos dias de hoje, não por exibição de elegante indumentária, mas para proteção contra o sol escaldante de tantas regiões de nosso País. No caso deste que vos escreve, tratava-se de peça esportiva, de uso comum em praias e lugares despojados de sombra.
O chapeuzinho tinha muitas horas de vôo e de transporte terrestre, bem acomodado entre as camisas leves e as calças de brim da bagagem. Foi assim quando o cumprimento de uma pauta levou a mim e a repórter fotográfica Márcia Zoeth a Cuiabá.
Uma vez encerrado o trabalho, texto e telefotos mandados para a redação, entrei com uma sugestão. A Chapada dos Guimarães, grandiosa, está a 67 quilômetros de Cuiabá. Que tal…? A redação aprovou com entusiasmo.
Lá fomos nós, de táxi alugado. Escreveria, depois, que a chapada é uma linha a perder de vista de paredões, escarpas fantásticas que pareciam ter sido talhadas a mão por uma ferramenta descomunal e se elevam a mais de 800 metros de altitude.
Vimos ou soubemos da existência de atrações como o Portão do Inferno, um abismo que despenca para a mata fechada. E a caverna Morada das Almas, com 800 metros de extensão. Ou ainda a Cidade de Pedra, onde a natureza imita ruas e casas.
Um amável morador nos recebeu, com café e informações preciosas. Daí passamos para o táxi e iniciamos a viagem de volta. Uns dois quilômetros percorridos, descubro que esqueci o chapeuzinho em cima da mesa do nosso anfitrião. O motorista do táxi freou incontinenti, e iniciou a manobra para voltarmos à casa.
Mas reagi. “Não precisa voltar, vamos em frente”. Nem o motorista nem Márcia entenderam minha reação. Ora, havia me ocorrido o que aconteceria no dia em que eu batesse com as dez. No velório, corbeilles, velas… e sobre o caixão o piedoso chapeuzinho que o falecido usava em seu trabalho.
Esta crônica foi originalmente publicada no Blog Vivendo e Aprendendo, em 11/9/2024.