Em uma noite de insônia, peguei ao acaso um dos livros da minha estante. Um Sherlock Holmes, que nem lembrava possuir. Trazia memórias do Dr. Watson, com o relato de como, recém-chegado da Índia, o médico acabou indo morar com o famoso detetive, e se envolveu com seu trabalho.
Em um dos primeiros casos da dupla, o corpo de um homem foi encontrado em uma casa vazia. Sherlock entrou na moradia e “os seus dedos ágeis iam correndo por aqui e por ali, tateando, apertando desabotoando, examinando.”
“Finalmente cheirou os lábios do morto” e com mais outras atitudes liberou o corpo. Assim que o ergueram, uma aliança caiu no chão. O achado virou anúncio de jornal, como tentativa de atrair o criminoso. No entanto, quem se apresentou no endereço citado foi uma velha, trôpega senhora. Disse que a aliança era de sua filha, contou uma história triste. Recebeu a jóia e se foi.
Holmes seguiu-a. A velha embarcou em um cupê e deu o endereço.
“Empolerei-me na traseira”, descreveria Holmes. No destino, descobriu que a passageira tinha saltado do cupê em trânsito, sem que Holmes notasse. Quando contou o episódio para Watson, este achou estranho que uma velha manquitola pudesse saltar do cupê em movimento. Holmes reagiu:
“Velha coisa nenhuma! Nós é que parecemos duas velhas fáceis de enganar. Deve ter sido um homem moço, muito desempenado e excelente ator.”
O grande Sherlock Holmes enganado por uma falsa idosa!
Esta crônica foi originalmente publicada no blog Vivendo e Escrevendo, em 21/8/2024.