“Era uma vez um menino que tinha o olho maior que a barriga, fogo no rabo e vento nos pés.”
Era assim que o recém partido Ziraldo definia o personagem que portava uma panela na cabeça, quando da sua criação em 1980
Mas não vim pra falar do Ziraldo. Todo mundo já teceu todas as loas que ele merecia por seu trabalho e por seu caráter. Eu só assino embaixo.
É que o personagem do momento nas redes sociais me lembra um menino maluquinho, não exatamente no sentido lúdico da cria do Ziraldo, mas de uma maluquice nociva para muitos. Estou falando do Elon Musk, de quem já não aguento mais ouvir falar.
A gente entra no X-Ego Musk e só tem postagens da extrema direita defendendo as bravatas do moço, e postagens da esquerda com as garras de fora prontas para atacar quem eles consideram um adversário de peso a serviço da direita.
A gente liga a TV e só ouve Ilon Mâsqui daqui, Ilon Mâski dali, e os comentaristas falando o tempo todo a mesma coisa sobre ele, batendo na mesma tesla, digo, tecla.
E por que ele está sendo tão comentado como nunca foi, nem mesmo quando comprou o falecido Twitter em outubro de 2022, pela bagatela de 44 bilhões de Bidens, que equivalia na época, a mais ou menos 235 bilhões de Guedes?
Muita gente perguntava por que catzo um bilionário fabricante de foguetes e de carro que liga na tomada iria querer fazer com uma das mais frequentadas plataformas das redes sociais, mas a curiosidade passou logo.
Nem de longe o assunto durou tanto como o que está durando esse da batalha travada entre o cabeça de panela do Elon Musk e a careca do Alexandre de Moraes.
Tudo porque Musk resolveu que, como dono da plataforma, pode fazer o que bem entender com os usuários, desrespeitar regras, inclusive sair acusando o ministro da Suprema Corte brasileira de ser um ditador que não admite a liberdade de expressão.
E qual é o motivo desse bafafá todo? Musk resolveu tomar as dores de alguns usuários, como Allan dos Santos e Guilherme Fiúza – só pra citar uns exemplos – que trabalham a serviço das chamadas milícias digitais. Eles tiveram suas contas fechadas no Twitter por determinação do ministro Alexandre de Moraes, com base nas leis que protegem o Estado Democrático de Direito
Moraes defende que incentivar golpe de Estado através das redes sociais é crime e, portanto, todos os que participavam desse esquema pró-golpe deveriam ter suas contas bloqueadas.
Mas o bilionário – que também atua em prol da extrema-direita aqui e lá fora – ligou o fodasse pro Moraes e mandou desbloquear essas contas, alegando que isso era censura explícita, que o ministro estava tolhendo a liberdade de expressão de seus usuários.
Agora entro eu aqui com meus parcos conhecimentos legislativos mas com minha fiel obediência às regras, sejam elas determinadas por lei ou por critérios pré-estabelecidos. Se eu for assistir a um show do Caetano Veloso, de quem sou fã de carteirinha, e quiser subir ao palco, tirar o microfone da mão dele e cantar gosto muito de você leãozinho, eu posso? Não, não posso. Os seguranças vão me arrancar de lá apesar de eu estar alegando liberdade de expressão. Então, tem coisa que pode e tem coisa que não pode. Não é assim no mundo todo?
Agora, se eu disser no Twitter que Bolsonaro e Lula são duas grandes tranqueiras (posso até escrever duas grandes merdas se eu quiser), nenhum Alexandre vai tirar minha conta. Isso é liberdade de expressão. Dou minha opinião mas não ponho a Nação em perigo. Espero que tenha ficado bem desenhado para os deputados e senadores que estão subindo no pódio para clamar o impeachment do ministro da Corte Suprema. Copiou, Eduardo Girão?
Nesta última quarta-feira, esse senador foi a plenário elogiar “mister” Elon Musk na língua Anglo-cearense: Começa com “My name is Eduardo Giral. I am a Senador of Brazil by the Éstate of Ceará”. E continuou agradecendo ao moço, nessa língua aí, pela força que ele tá dando em favor da liberdade de expressão.
Entre pitacos de juízes, jogadores, cartolas e torcidas, a peleja continua e até o momento o resumo do primeiro tempo do jogo entre Ellon Musk e Alexandre de Moraes, é esse:
O juiz inclui o jogador na lista de investigados das milícias digitais fundamentado em contexto de ameaça às instituições.
Na ponta-direita o moço maluquinho contra-ataca chamando o ministro de ditador em postagem no XTwitter (esse X não colou até agora) de 10/04, ou seja, mesmo depois de ir pra lista negra do Xandão.
No VAR só dá Eduardo “Giral”. Virou motivo de chacota na mídia escrita e televisada, com direito a gargalhadas dos colunistas da UOL, Fabíola Cidral, Josias de Souza, Leonardo Sakamoto e de todos os brasileiros não bolsonaristas que, nas arquibancadas, assistem à presepada do senador.
Vamos aguardar pra ver quem leva a melhor no fim do jogo. O apito do juiz ou o ponta-direita faltoso.
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 12/4/2024.