Má notícia para a turma da Faria Lima hoje: a economia brasileira está crescendo, e bem acima do esperado. É a oitava com maior crescimento do mundo no terceiro trimestre deste ano.
No acumulado de 12 meses (a contar do terceiro trimestre de 2023), o crescimento do PIB já está em 4%. O esperado para os 12 meses de 2024 era de 3,2%, mas deve fechar em 3,5% ou mais.
O fato, apurado pelo IBGE, desmantela a narrativa de que o desemprego em queda junto com o aumento real do salário mínimo pressiona os preços do mercado para cima. É uma balela. As empresas estão investindo nos seus negócios, se não nem o emprego nem o PIB teriam subido, e o aumento da produção aumenta a oferta e pressiona os preços para baixo.
É elementar. Está na primeira página de todos os bons livros de economia de nível universitário.
O que está, no momento, pressionando os preços para cima é o dólar, que está em alta no mundo todo e encarece as importações. É, aliás, um bom motivo para as nações soberanas saírem do dólar nas suas trocas comerciais, substituindo-o pelas moedas locais.
É tudo que os EUA não querem, e vimos nos últimos dias o presidente eleito para o período 25/28 vociferar contra os países que abandonarem o dólar. O Brics até pensa em criar sua própria moeda — o que seria muito difícil dadas as enormes diferenças entre os países do bloco —, mas nem precisa disso para desbancar a moeda norte-americana. Basta fecharem o câmbio entre si com suas próprias moedas.
O império norte-americano está em declínio acentuado e não há cura para isso num mundo cada vez mais globalizado e diverso. A ascensão econômica e comercial da China é irrefreável. Ao contrário dos EUA, os chineses produzem em escala planetária a preços imbatíveis. E com qualidade acima dos padrões do mundo capitalista.
Se taxá-los com 25% ou mais, como promete o novo governante dos EUA, será pior, muito pior, para eles do que para a China. E nem sentou na cadeira, o novo chefão já fala em sobretaxar com 100% os países que “ousarem” abandonar o dólar! O diabo loiro está apontando o canhão para sua própria cabeça…
Mas, voltando para a Faria Lima, até o Centrão está gostando do pacote do Haddad. E na indústria já aparecem vozes discordando do histerismo dos críticos. Também não entendo o frisson que causou a apresentação, junto com o pacote, do projeto de reforma do imposto de renda. Por que tantos arrepios? Porque acima dos R$ 50 mil de renda vão pagar mais 10% de imposto?
O tal mercado precisa, primeiro, estudar, ler os bons livros de economia e, em seguida, parar de reclamar de boca cheia. Nunca ganharam tanto dinheiro como em Lula 1 e Lula 2, e estão ganhando também em Lula 3. O aumento da dívida pública é um presentão para eles. E seu controle, que o governo busca agora com certo atraso, vai tirar o pirulito da boca da criança.
Certeza que vem daí a gritaria.
Nelson Merlin é jornalista aposentado e estudioso. ]
3/12/2024