O Bom Velhinho Desbotou!

Chega esta época do ano as crianças e até os adultos se alvoroçam com a figura do Papai Noel presente nos shoppings e nas ruas distribuindo balinhas e sonhos acompanhados de um alegre ho, ho, ho, enternecendo corações dos pequenos e dos grandes que um dia foram pequenos e que também se encantaram com o bom velhinho.

Sua origem, reza a lenda, foi inspirada no santo homem Nicolau de Mira, lá da Turquia, que costumava dar presentes pra todo mundo no dia do seu aniversário. Ele era tão bom que acabou virando santo de verdade: São Nicolau, o padroeiro da Rússia, da Grécia, da Noruega e dos estudantes.

A figura que outrora se vestia de verde e marrom, montava seu trenó puxado por renas, e saía na véspera de Natal desafiando o ar gelado do inverno europeu para distribuir presentes e doces pra meninada bem-comportada.

Entrava ano, saía ano, tirava sua roupictha verde do guarda-roupas e seguia firme e forte cumprindo seu papel de benfeitor. Só que em 1931, a Coca-Cola resolveu dar um upgrade no visual do bom velhinho. Vestiu-o de vermelho da cabeça aos pés, contrastando com o preto dos adereços e o branco da sua longa barba. Ficou tão chamativo que de longe se avistava a figura rechonchuda e sorridente do bom velhinho. A moda pegou e até hoje ele aparece em todos os lugares nesta época do ano, em carne e osso, gordo ou magro, com barba natural ou falsa, mas sempre vestido com seu indefectível traje vermelho, fazendo a alegria da criançada.

Mas, para alguns seguidores da seita Família Acima de Tudo, Deus Acima de Todos, esse Papai Noel não passa de um comunista comedor de criancinha.  Onde já se viu um cristão usar vermelho, da cor do pecado, e, pior, da cor do PT?

Pois essa “heresia” acabou levando a prefeitura de Balneário Camboriú, cidade catarinense que elegeu para vereador o brilhante político Jair Renan Bolsonaro, a trocar a roupa vermelha do Papai Noel por um look mais patriota. O bom velhinho de lá agora veste calça e blusão amarelos e carrega um saco verde nas mãos. (O Brasil já teve Papai Noel que dava presentes a si próprio, mas seu saco era roxo.)

A prefeitura de Balneário Camboriú jura de pés juntos que a escolha das cores não tem nada a ver com as cores da nossa bandeira adotada (ou usurpada?) pelo inelegível Jair Bolsonaro. Em nota, ela afirma não ter nada de propaganda política nisso, apesar de pertencer ao Estado mais bolsonarista do país, e que a escolha das cores branca, amarela (que eles chamam de dourada) e verde na decoração natalina da cidade somente “busca simbolizar prosperidade e exclusividade”.

Essa foi a melhor explicação que conseguiram dar. O pessoal que pede ajuda aos ETs direcionando a lanterna do celular ao céu acreditou e aplaudiu.

Já as crianças e os adultos que saíram em busca do bom e velho Papai Noel de vermelho ficaram decepcionados. Suas fotos ficaram totalmente desbotadas e o Ho, Ho, Ho ficou mais pra Ha, Ha, Ha diante dessa idéia pra lá de estapafúrdia.

E para continuar no clima de Natal verde-amarelo catarinense, o governador Jorginho Melo (facilmente encontrado agarrado ao saco verde-havan de seu mito), resolveu dar um presentão à população neste fim de ano. Declarando ser contra aumento de impostos, decidiu não cobrar IPVA para barcos e aviões em todo o Estado.

Olha aí que boa notícia para os moradores de Santa Catarina. Vão poder passar o Natal tranquilos, sem a preocupação de ter de poupar a grana para o pagamento dos salgados IPVAS de seus veículos aquáticos ou aéreos.

Ho, Ho, Ho!

Mas, se preferirem, Ha, Ha, Ha!

Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 13/12/2024. 

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