Lendo as notícias da semana, me veio logo à mente esse filme de 1969, dirigido por Júlio Bressane.
“Matou a Família e Foi ao Cinema” conta a história de um jovem carioca de classe média baixa que assassina os pais a punhaladas e sai de casa em seguida pra assistir ao filme “Perdidos de Amor”.
Na verdade ninguém matou a família e foi ao cinema nesta semana, mas a frieza e essa cara de pau do personagem principal se encaixam com os protagonistas das histórias que se destacaram por esses dias.
Numa adaptação à realidade atual, o episódio de busca, apreensão e fuga dos Bolsonaro, ocorrido no último dia 29, tem tudo pra virar filme. O título poderia ser “Cometeram Crimes e Foram Pescar”.
O enredo seria sobre como um ex-presidente e um de seus filhos se equiparam pra montar uma agência de espionagem paralela à Abin, a Agência Brasileira de Inteligência, pra uso próprio. Essa organização criminosa servia para espionar inimigos políticos e também para saber a quantas andavam as investigações da PF sobre todas as falcatruas cometidas pela família. Claro que eles sabiam o tempo todo que estavam cometendo um crime, mas tinham tanta certeza de que daria certo o golpe para que o capo continuasse no poder que se lixaram para a lei.
Só que o plano de golpe não deu certo e agora eles tinham de correr pra apagar as evidências que os levariam, ou irão levar, para a prisão.
Achando-se muito espertos, ele e os filhos saíram de casa às 5 da matina com receio de serem flagrados com equipamentos comprometedores. E pra onde teriam ido à essa hora da manhã com dois barcos e duas motos aquáticas? Pescar, claro! Sim, essa seria a resposta que dariam pra imprensa.
Nessa parte, o filme, que até então era um suspense, acaba virando comédia, com direito a memes e piadas dos espectadores. Desenhos mostrando o fundo do mar com peixinhos atônitos diante da chuva de celulares e de notebooks não faltaram. Alguns fizeram montagem da família no barco e associaram ao desenho “A Fuga das Galinhas”.
Se o filme vai terminar num drama ou numa tragédia, ainda não sabemos. O script está pronto mas ainda não foi divulgado e também não sabemos quando será rodado. Vamos aguardar.
“A Menina que Matou os Pais”. Esse filme foi lançado em 2021 e a personagem principal é Suzane von Richthofen, a menina bonita que friamente encomendou a morte de seus pais.
Seu nome reapareceu nas redes sociais durante a semana porque ela teve um bebê no último dia 26 de janeiro em Atibaia, cidade que fica ao lado Bragança Paulista (SP), onde mora atualmente com o marido e onde cumpre pena em regime aberto.
Não consta se na ocasião em que mandou o namorado e o irmão dele matarem seus pais tenha ido ao cinema logo após o crime, mas a desfaçatez e a ausência de qualquer sinal de arrependimento com que se apresentou nas reportagens depois de sua prisão levam a crer que ela teria ido, sim, se estivesse passando algum filme do seu agrado.
O buchicho do parto se deu porque Suzane, com medo de manifestações populares, teve de entrar pela porta dos fundos do hospital onde trabalha o marido médico, e precisou de autorização judicial pra sair da cidade, já que a pena impõe restrições.
Suzane foi condenada a 39 anos de prisão e já cumpriu 20 na cadeia.
Em março do ano passado, dois meses depois de deixar a prisão, conheceu pelo Instagram o médico Felipe Zecchini Muniz, pai do rebento que herdou seu nome.
Hoje Suzane carrega em seus braços o filho que saiu dela e, provavelmente, rezando para que não tenha saído a ela.
The End!
Esta crônica foi publicada originalmente em O Boletim, em 2/2/2024.