O clima de festa que as meninas da ginástica olímpica proporcionaram aos brasileiros na última quinta-feira foi tão contagiante que mal dá pra falar dos últimos trambiques políticos que o ditador venezuelano e o aspirante a ditador brasileiro estão mostrando ao mundo desde domingo passado.
Hoje eu sou Rebeca, sou Flavinha e até mesmo Simone Bailes, que, confesso, torci para que desse uma escorregadinha em algum aparelho ou no solo. É pecado? Deve ser, mas como não aconteceu, acho que já tô redimida. Ela mereceu o ouro pelo fantástico desempenho, pela garra e pelo sorriso largo que encanta a todos.
Nada disso que Rebeca não tenha, mas competição é competição, e qualquer pontinho faz a diferença no degrau do pódio.
Porém nem mesmo a emoção de ver a nossa medalhista de prata, criada pela mãe solteira Dona Rosa – que trabalhava como faxineira para conseguir bancar os treinos da filha -, apaga a pouca vergonha do que aconteceu nas eleições da Venezuela domingo passado.
Nicolás Maduro achou que a eleição era uma disputa olímpica e se preparou, com muito empenho, diga-se, para a modalidade “Assalto às Urnas”.
Pegou medalha de ouro quando, já na madrugada da segunda-feira, os “juízes” do torneio soltaram as notas que o levariam ao pódio.
Os atletas da oposição contestaram essas notas com o argumento de que o desempenho deles foi muito melhor e que prova maior era a torcida que ocupou totalmente as ruas em sinal de protesto.
Muitos países desconfiam que os pontos recebidos durante a competição tenham sido forjados. E há fortes indícios de que tenham sido mesmo, por isso esse bafafá todo em torno da premiação. Quase todos pedem para que os votos sejam recontados abertamente e que o atleta devolva a medalha se comprovada a fraude.
Eu disse quase todos, porque alguns representantes de países que torciam pela sua vitória estão fechando os olhos para a manipulação engendrada que garantiria o primeiro lugar ao competidor.
Um deles, infelizmente, é o nosso. Luiz Inácio Lula da Silva não achou nada de anormal o resultado da competição. Disse que, se houver dúvidas, basta apresentar a ata para que tudo se esclareça. “Se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com um recurso e vai esperar na Justiça o processo. E vai ter uma decisão que a gente tem que acatar. Estou convencido de que é um processo normal, tranquilo”.
Essas declarações deixaram nosso torcedor em maus lençóis tanto perante o grande público brasileiro que esperava por outro resultado como pela torcida internacional que se recusa a aceitar tramoias durante as competições. Lula sabe muito bem que a “Justiça”, nesse caso, foi comprada pelo atleta, mas achou que seria esse o caminho para declarar, mais uma vez, que veste sua camisa de torcedor fanático do craque em Assalto às Urnas e que nunca deixará de apoiá-lo.
Não parece inapropriada essa reação para uma pessoa que já assistiu a algo parecido em seu país, no 8 de janeiro do ano passado, quando o competidor daqui queria porque queria levar o ouro? (Acabou levando, mas não em forma de medalha.)
Se competições desse tipo se tornarem oficiais e se espalharem pelo mundo, seria hora de começar a se pensar em outro tipo de premiação.
No lugar de medalhas, algemas de ouro, de prata e de bronze!
Largando pra trás a parte desagradável da semana e voltando ao clima olímpico, deixo aqui um grande viva e um muito obrigada aos atletas de verdade que nos fazem sentir orgulho e não vergonha de sermos brasileiros!
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 2/8/2024.