Fotos, um perigo

Os coleguinhas fotógrafos gostavam de aprontar para conosco, os de texto. Esse “coleguinha” era como chamávamos uns aos outros, por deboche. Ora, vejam o que acontecia. 

Sentei em um banco, em uma pequena praça do litoral paulista, para cuidar de minhas anotações. Não notei que junto de mim, ao alto, havia uma placa com os dizeres: Praça da Mentira. Tampouco percebi que estava sendo fotografado pelo meu companheiro de viagem. O fato é que a foto de um repórter atuando na Praça da Mentira foi parar no painel de avisos (e gozações) da redação.

Em outra viagem, esta com o Reginaldo Manente, paramos em um pequeno restaurante. Em certo momento resolvo ir ao banheiro. Segui para o que tinha um grande letreiro: “Homens”. O dono da casa, no entanto, sugeriu que usasse o banheiro com o letreiro “Mulheres” por estar mais limpo. Fui, e quando estou saindo do banheiro, dou com Manente com a câmera fotográfica no rosto.

A foto do repórter saindo do banheiro das mulheres fez sucesso.

Meu colega era o Rolando de Freitas quando chegamos em cidade do sertão do Ceará, para matéria sobre a descoberta de urânio. Cansados e empoeirados. O hotel, ou o que passava por isso, não tinha chuveiro. Era um latão de água que a gente colhia com canequinha. Fiquei de olho no Rolando. E não é que ele veio com a câmera disfarçada na toalha? Imagine a foto do repórter pelado se molhando com a canequinha… Essa o painel da redação não levou.

Estávamos no interior de São Paulo, para cobrir o roubo de uma estátua de Nossa Senhora em uma igreja local. Quando chegamos, a estátua, uma peça grande, já havia sido localizada. Mas ainda estava guardada em um armário. Com autorização do padre, peguei a estátua e caminhei com ela até seu lugar de origem, para ser fotografada.

O painel da redação ganhou uma foto deste repórter transportando a peça, com uma legenda: “Identificado o ladrão da santa”.

Brincadeiras à parte, esses geniais repórteres fotográficos sempre tiveram grandes sacadas. Lembro que estava com Alfredo Rizzutti em uma região em que o nome dos municípios surgiam à entrada da rodovia que os atendia. Eram letras de concreto, com um metro ou mais de altura. Não havia, naturalmente, pontuação.

Saindo de um deles, num finzinho de tarde, Rizzutti pediu para o motorista parar o carro. Desceu, colocou um pingo na letra i, e fez a foto. O pingo era uma bolinha vermelha – o sol chegando ao ocaso.

Tenho lembrança, também, de tiradas dos colegas, como aconteceu em viagem com Heitor Hui. Em uma churrascaria, o garçom pôs um espeto de carne à minha frente. Indiquei um pedaço, ele correu a faca e acertou… meu dedo!

Disse que aquilo era comum, pediu um momento e se afastou. Outro garçom notou que algo incomum acontecia. Aproximou-se. “Os senhores estão precisando de alguma coisa?” Heitor, rápido:

– Fio de sutura.

Esta crônica foi originalmente publicada no blog Vivendo e Escrevendo, em 30/5/2024.

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