A disputa pelo poder entre Kamala Harris e o mala Donald Trump foi mais comentada – e ainda está sendo- do que campeonato mundial entre times de peso.
Aos 45 minutos do segundo do tempo, e até mesmo na prorrogação, ninguém conseguia prever o resultado de jogo disputado a tapa entre os times.
Muita agressão verbal entre os capitães de cada clube, pouca produtividade em campo e muita torcida organizada fazendo barulho, dentro e fora do estádio.
Aqui a torcida ficou por conta dos camisa verde-amarela que oravam para pneus e clamavam pela ajuda dos ETs para que o orange man vencesse o jogo.
Teve até parlamentares brasileiros que vestiram suas camisas e bonés de Make America Great Again, entraram num avião com passagens pagas com dinheiro público, direta ou indiretamente, já que seus altos salários e suas mordomias saem do bolso do povo, e foram assistir ao jogo de camarote lá nos esteites. Eram cinco deputados federais: Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Rodrigo Valadares (União-SE), Paulo Bilynskyj (PL-SP), Filipe Barros (PL-PR) e Bia Kicis (PL-DF), e o senador Magno Malta (PL-ES).
Torcida organizada de peso, de fazer frente até à Mancha Alviverde que estampou as manchetes dos jornais dias atrás.
Mas por que um time estrangeiro estaria provocando tanto interesse em torcedores de fora? A resposta vem dos componentes da comitiva que foi lá para “estreitar os laços” com o time vencedor e dos torcedores que ficaram por aqui batendo continência para a estátua da Liberdade em frente às lojas da Havan. Eles esperam que Donald Trump vá prender o Alexandre de Moraes, que Jair Bolsonaro, consequentemente, vai deixar de ser inelegível e que seremos todos, daqui a dois anos, um só coração, como deu a entender o deputado Paulo Bilynskyj em declaração no fim do jogo: “Hoje é o dia mais importante para a democracia. A vitória de Donald Trump retomará a prática de valores que construíram o Ocidente e afetará diversos países, entre eles o Brasil”.
A declaração do deputado Eduardo Bolsonaro foi ainda mais esperançosa para as próximas eleições presidenciais brasileiras, contando com o ovo no chicken’s ass, com a certeza de que Trump vai livrar a cara do seu pai: “Após essa vitória histórica fica um recado claro: não adianta xingar, difamar, censurar, indiciar ou prender, o povo prefere qualquer um a ter um presidente de esquerda”. Como assim, Dudu? Chamando seu ídolo de qualquer um? Achei que seu amor pelo Trump ia muito além de uma chapa de hambúrguer. Achei que você acreditava mesmo que ele é o verdadeiro salvador da pátria, que é um homem integro, que joga limpo, que, com toda a virilidade que lhe é atribuída, vai levantar a Economia americana, que vai varrer o país e jogar no lixo os comedores de cães e de gatos que garantiram seu lugar no pódio, que você tem orgulho dele por representar, de certa forma, o trump genérico que te pariu. Quanta ingratidão , Dudu!
Neste “Brazil” onde boa parte da população de repente virou sobrinha do Tio Sam, a repercussão do resultado do jogo continua firme e forte com direito até a grito de guerra da torcida: “Se for chorar mande áudio”, achando que o campeonato ganho é brasileiro, e que a torcida adversária é comedora de criancinha. Não vou rir porque é pecado rir dos menos favorecidos por massa cinzenta, mas que dá vontade, ah, isso dá.
Diante de tanta estultice que se tem ouvido sobre essa disputa, vou parar de reproduzir comentários e fechar o texto com o que eu considero o suprassumo do pensamento filosófico, expressado pela ex-presidenta brasileira e filósofa nas horas de folga, Dilma Rouseff: “Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar ou perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder”.
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 8/11/2024.