Lá por meados dos anos 70 foi criada uma série de TV americana com o nome The Six Million Dollar Man. Aqui no Brasil ficou conhecida como Ciborgue, O Homem de Seis Milhões de Dólares, ou O Homem Biônico, na época transmitida pela TV Tupi e depois reprisada pela TV Bandeirantes. Fez muito sucesso e acabou dando origem a outra série, que também ficou bem famosa: A Mulher Biônica.
Na trama, o personagem principal, é o coronel e ex-astronauta Steve Austin, que passa a trabalhar no Departamento de Inteligência Científica depois de ter sofrido um acidente de avião, em que ficou gravemente ferido. Lá ele passou por funilaria e pintura. Substituíram suas pernas, seus braços e seu olho esquerdo destroçados no acidente por implantes biônicos. Com isso ganhou força, visão avantajada e uma velocidade nas pernas maior do que a de bandido correndo da polícia.
Mas isso teve um custo altíssimo que SUS nenhum cobriria. Foram seis milhões de dólares, entre material e mão de obra, direto na conta da OSI – Office of Scientific Intelligence – por isso ficou conhecido como o homem de seis milhões de dólares.
Bom, e daí? O que isso tem a ver com os assuntos da semana?
Na verdade nada – só me lembrei que lá existia o homem de seis milhões de dólares e aqui tem o homem que compra uma mansão por 6 milhões de reais, faz um empréstimo para pagar em 30 anos e, de repente, em 37 meses, a mansão tá quitadinha da silva teles.
Seria esse um homem biônico com visão de raio-X pra achar o pote de ouro que fica no fim do arco-íris? Porque, convenhamos, até para um rachador nato como Flávio Bolsonaro, é muito dinheiro pra ir lá e saldar uma dívida desse tamanho.
Só sei que o nome do moço está, de novo, na boca do povo que não pára de fazer ilações sobre a fonte do dindim do parlamentar. Palpites não faltaram. Alguns acham que ele pegou uma graninha extra como lobista do PL que pretendia privatizar as praias brasileiras. Interessados em ganhar algum (ou muito) com esse projeto de lei já teriam passado adiantamento em dinheiro vivo, para que ele se esforçasse e conseguisse ter o projeto aprovado.
Outros arriscam o palpite de que a lojinha de chocolate lavou muito mais dinheiro do que se imaginava e que o financiamento teria sido só pra não dar na cara que ele tava sentado na grana e que, se quisesse, compraria a mansão à vista e até a imobiliária envolvida na transação.
E tem ainda os mais ousados que o incluem no rol de muambeiros de armas e drogas e até de jóias, já que a família tem uma certa intimidade com essas “quinquilharias” de altíssimo padrão.
A modesta casa comprada por ele em 2021 por R$ 6,1 milhões no Lago Sul, área nobre do DF, tem 1.100 metros quadrados, cinco suítes, academia, espaço gourmet, jardins planejados, piscina, enfim, praticamente um clube particular.
Na época deu uma entradinha de R$ 2,9 milhões, dinheiro esse vindo, segundo ele, da venda de um apartamento na Barra da Tijuca (RJ). O resto foi financiado pelo Banco de Brasília com prestações de R$ 18,8 mil por mês em longos 30 anos. Porém, em março deste ano sua dívida foi quitada. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que ele fez pagamentos que variaram entre R$ 198 mil a R$ 997 mil. Indagado sobre a origem dessa dinheirama toda, ele foi curto e grosso: Afirmou que os recursos utilizados para esses pagamentos são “lícitos e fruto do suor do meu trabalho”.
Na pesquisa feita para trazer essa informação aqui, copiei a frase dele direto do jornal, mas tenho cá pra mim que houve uma falha na revisão da matéria. Na palavra “fruto”, o R deveria estar depois do U.
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 5/7/2024.