A orelha que mudou o rumo de uma nação

Nunca pensei que de um dia para outro eu veria tantas informações sobre orelhas.

Até muito pouco tempo atrás, tudo o que eu sabia sobre orelhas é que serviam apenas para separar a cabeça, apoiar os óculos e ajudar a captar os sons.

Nesta semana, coincidentemente ou não, fui bombardeado com histórias de orelhas.

Primeiro vi no YouTube um vídeo sobre o caso do Mike Tyson, que mordeu e arrancou um pedaço da orelha do Evander Holyfield.

Há uma lenda de que um cara viu onde ele cuspiu o pedaço da orelha, se aproximou do ringue, pegou e está guardado com ele até hoje.

Não explicou se na geladeira, no freezer ou em um vidrinho com formol que fica no criado mudo dele.

Já andou pensando que deve colocar em leilão. Achou tolice?

Nada disso, nos Estados Unidos eles têm tanto dinheiro sobrando que o americano médio adora colecionar essas coisas.

Tinha até uma série, Caçadores de Relíquias, em que dois manés atravessavam a América catando lixo em celeiros e pagando alto por ele.

E os tiozinhos, vestindo macacões de jeans no melhor estilo John Boy Walton, ainda faziam doce na hora de negociar.

-Quanto você aceita por aquele pinico sem alça? Uns U$ 450.

– Fecha em U$425?

-Não, aí não dá, 425 nesse pinico é pouco, meu cachorro Peyton mijava nele.

-Então que tal 460?

-Tudo bem, então aperta minha mão.

Detalhe é que o “tudo bem” era com uma tremenda cara de triste. Eu teria dado 11 cambalhotas e 2 mortais invertidos depois de ter rolado no chão de terra.

Os caras compravam placas de posto de gasolina enferrujada, brinquedos de lata que já vinham com tétano de brinde, tico-tico sem rodas… “É, mas essa foi a primeira fábrica a fazer tico-tico, antes disso a criança apenas engatinhava.” Suponho que sem as rodas ela vai continuar engatinhando ou terá que comprar um guincho.

Latas de atum enviadas para soldados na guerra. imagine o aroma desse atum se ele escapar dali para a atmosfera. Terão que desocupar a cidade.

Caixa de fósforos com garantia de funcionamento, afinal todos já foram testados. E por aí seguiam as aquisições. Tinha ainda uma funcionária maluca, toda tatuada e dançarina burlesca que tinha a missão de encontrar essas preciosidades pelo telefone.

Eu assistia a esse programa sonhando que um americano desses aparecesse na minha porta. Tenho um autorama na caixa original, um roda-jato, uma dentadura do drácula e 2 vídeos VHS – eu abriria mão sem cara de triste se fosse para eles em dólar.

Veja, isso se chama diferença cultural entre países. Que também pode ser definida como tolice mesmo.

Já eu, se aparecer com esse pedaço de orelha em casa dizendo que comprei em um leilão, a família me interna. Apesar de que, mesmo sem a orelha, receio que já pensam nisso.

No meu caso, compraria uma cabeça de isopor daquelas de guardar peruca e colaria o pedaço da orelha nela.

Isso é arte, minha gente. É pura inspiração criativa, acabaria exposto no Moma Museum.

Depois apareceu um vídeo de como fazer feijoada passo a passo.

No YouTube é assim, você vê um vídeo de 45 minutos explicando como usar um martelo, em seguida aparece outro com tipos de pregos, outro de fábrica de martelos e depois um de pomada para passar em dedo roxo martelado. Eles vão segmentando no mesmo tema.

Na feijoada todas etapas eram importantes, mas uma que foi explicada com veemência é que tem que colocar o pezinho e a orelha do porco. Olha a orelha aí de novo.

São os pertences mais menosprezados. Se você não gosta, tudo bem, no final você retira antes de servir. Mas se quiser o sabor e a textura correta na iguaria, não deixe de colocar, afirmava o próprio Bolinha no vídeo. Para quem não o conhece, ele é o Deus da Feijoada. Ficou rico vendendo esse prato a preço de comida fina. Tem todo dia, até no Natal.

Aliás, isso é uma arte, há lugares que usam coisa barata para vender um prato caro. Quando o cardápio explica muito sobre o prato, prepare-se para ser enrolado. Eu não tenho paciência, na oitava linha desisto da leitura.

Pratos que levam apenas ingredientes aborígenes, como mandioquinha, banana da terra, alho porró, enfim, nada que custe algum dinheiro, eu já sei que vem bomba.

Aquela velha conversa mole de alguns chefs malandrinhos de usar ingredientes da nossa região e da estação. Por mim, eu desço em outra estação e outra região sem problema.

Onde estão as vieiras, a lagosta, os camarões e as carnes nobres? O caviar beluga retirado do esturjão do Mar Cáspio?

E as sobremesas que usam fava de baunilha? Ora pinhões!

Descrições primorosas como: reduzido em tal coisa ou finalizado e puxado na espuma de sei lá o que, é a conta para mim.

Tô fora. A conta vem salgada e saio com fome.

Lembro quando minha mãe me perguntava:” gostou da comida?”

Eu respondia: até que não está ruim, não. Todos riam.

Falava para ela que minha técnica era nunca dizer que estava bom, porque aí a pessoa não procura melhorar. Estagna naquilo.

Agora devo confessar: a comida dela era bem saborosa. Até pedra assada ficava no ponto certo. Mas quando eu comia e não conseguia dizer o que era, eu perguntava: “Mas, afinal, o que é isso aqui.” Alho porró!

Evidente. Até hoje não comi nada que leva esse troço que tinha algum gosto. Todos aqui têm certeza de que isso é para comer mesmo?

E agora voltando. Como no jazz, faço o improviso, mas não saio do tema.

Abro o jornal e vejo que um pedaço da orelha do Trump não vai mais fazer parte da corrida eleitoral. Que mundo pequeno.

Já pensou se esse cara morre, nessa escassez de candidatos que eles estão vivendo, quem vai ser o presidente?

Pensei no Maduro, que adora ser presidente, Ou, para suprir a carência cognitiva do atual, indicaria o Alf o ETeimoso, pelo seu raciocínio espontâneo. Isso se ele bater o peso e fizer um Camp completo.

Ouvi dizer que o cara que atirou no Trump pesava 80 quilos e passou para 96 em 12 segundos. De tanto chumbo que ingeriu.

Bem, minha orelha já está vermelha de escrever esse texto. É muita orelha para uma semana só!

Enfim… vou cuidar das minhas e ouvir um bom disco.

Cuidem bem das suas!

21/7/2024

7 Comentários para “A orelha que mudou o rumo de uma nação”

  1. kkkkk esqueceu que serve tbm de porta caneta kkkk costume em extinção.. boa Fabiao

  2. Sensacional como tudo que vc escreve! Saudades de ouvir suas histórias…
    Vou me divertindo lendo suas crônicas!
    Grande abraço, Fábio!

  3. Muito bom meu amigo .
    Como sempre mandando bem .
    Continue a escrever e lógico, ouvindo boa música .
    Abraços

  4. Gostei do texto .
    Vc deu uma nova dimensão para as orelhas ou a falta delas. Texto super divertido

  5. Meu amigo, eu sei que o texto é sobre orelhas, mas “pomada para passar em dedo roxo martelado”, foi a melhor, tudo indicado pelo algoritmo, fantástico!
    Meus parabéns por mais esta pérola da literatura, você é o melhor!

  6. Fabio , que delicia ler suas crônicas, que aconselho serem lidas pela manhã pq assim o dia fica mais leve. Sabe, vc economizou nas utilidades das orelhas, que são também muito usadas com acessórios, brincos, piercing kkk A verdade é que seu texto é tão completo e criativo transitando nesse tema que a gente procura encontrar algo a mais. Amei, como sempre!!!!

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