Tapas na Cara!

A cerimônia de promulgação da tão esperada reforma tributária, na última quarta-feira (20/12), teve um pouco de tudo.

O plenário da Câmara lotado de líderes políticos irmanados e engalados entoando o Hino Nacional com orgulho. (Os que sabiam a letra cantavam empolgados, mas alguns ficaram só mexendo os lábios, como fazem os jogadores de futebol. Juro que vi Lula simulando uma tosse cobrindo a boca com as mãos pra disfarçar um possível esquecimento ou total ignorância da música, complicada é verdade, que representa nosso país.)

Na plateia, deputados e senadores se dividiam entre aplausos e vaias. Governistas aplaudiam orgulhosos o presidente Lula, que conseguiu, finalmente, fazer com que a reforma andasse com a ajuda de Arthur Lira e de Rodrigo Pacheco.

Em contraposição, opositores se uniram num imenso coral pra cantar “Lula ladrão, seu lugar é na prisão”.

Isso irritou a torcida organizada do presidente, e, em especial, o parlamentar petista Washington Quaquá, que partiu pra cima do deputado Messias Donato (Republicanos-ES) e deu-lhe um tapa na cara.

Foi feio? Foi! Todo mundo vendo essa baixaria aqui e lá fora não pega bem, mas o que espanta é ver a manifestação exacerbada sobre o caso dessa direita praticante de atos, digamos, pouco civilizados, como incentivo a golpe de Estado, que incluiu depredação de prédios públicos, pedindo a cassação do mandato do deputado estapeador e alguns mais exasperados expressando sua indignação em palavras. Destaco a aqui a declaração da deputada que perseguiu um opositor armada nas ruas de São Paulo, em véspera de eleição: “Toda minha solidariedade ao deputado Messias Donato. No Parlamento as discussões podem ser calorosas mas não devem partir nunca para a agressão física”, disse Carla Zambelli.

Parece que pra deputada agressão física e ameaça com arma de fogo só são permitidas nas ruas.

 

Outro tapa na cara dado na semana, desta vez nas caras dos brasileiros, ficou por conta do ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli, que aproveitou seu plantão para fazer um agradinho à dupla Joesley e Wesley Batista.

Só pra lembrar, os irmãos Batista, donos da J&F Investimentos, confessaram à Lava Jato que participavam de um esquema de corrupção em troca de favores políticos. Por essa delação, foi assinado um acordo de leniência que obrigaria a empresa a devolver mais de R$ 10 bilhões aos cofres públicos.

Passa o tempo, eles enrolam o quanto podem, contratam a advogada Roberta Rangel, que por acaso, mero acaso, vem a ser a mulher de Dias Toffoli, e, num lance de sorte do destino, recebem como presente de Natal a suspensão da multa de 10,3 bi que deviam à União, conforme acordo de leniência firmado à época.

Que comovente. Esse ministro não é o próprio Papai-Noel? Dá até pra imaginar ele em seu trenó, com um largo sorriso no rosto, cantando pro irmãos Batista:

Bate o sino, pequenino

Sino de Belém

Já nasceu “Dias” menino

Para o vosso bem!

Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 22/12/2023.

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