O Número 2

O que um carioca e um paranaense desinformados podem fazer por São Paulo? Nada, se forem pessoas comuns e não desempenharem atividade que possa comprometer o bom nome do Estado mais culto, rico e populoso da Federação. Mas e se forem, respectivamente, governador do Estado e secretário da Educação?

Bom, nesse caso podem causar um estrago de proporções. Não tenho nada contra cariocas e paranaenses. Tenho mulher e filha cariocas e moramos muitos anos no Paraná, onde tenho muitos e bons amigos. 

A questão está no fato de os dois serem desinformados, para dizer o mínimo do mínimo. Para dizer um pouco mais, os dois são incultos. E para esticar um pouco mais a corda, os dois não têm méritos para estar onde estão, ocupando os cargos que ocupam.

O primeiro, dito governador, veio das profundezas turvas do bolsonarismo, uma corrente de pensamento que inaugura no Brasil uma nova espécie de humanóides: a que, mesmo dotada de cérebro dentro da cabeça, não pensa é com cré. E quando eventualmente pensa em alguma coisa, o que sai da caixa craniana compete com o produto da caixa intestinal. Pensa somente em homenagear com bajulações asquerosas o mito que o criou. Sem perder nenhuma oportunidade de anunciar que sem ele não seria nada na vida. 

O segundo, dito secretário da Educação, vem de uma gestão desastrosa na Educação do Paraná, onde também foi secretário, sob os auspícios de um governador que se autodenomina “ratinho”, com o qualificativo júnior na sequência, indicando que é ainda menor que um simples ratinho, com todo orgulho. Isto porque ratão é o pai, que se classificava a si mesmo como um picareta que deu certo, ao enriquecer fazendo programas de televisão do mais baixo nível para audiências de nível ainda mais inferior, se é possível. O que se podia esperar de tais conjunções? 

A dupla eminente está agora dando as cartas na Educação de São Paulo e o que sai dessa composição é o produto acabado do que acabo de dizer: dejetos, em estado líquido gasoso — para não conspurcar este espaço com palavra de menor calão. 

A propósito, leio que disso tudo resultou, agora, uma semana depois, a demissão do Número 2 (ops!) da Educação em SP. Que coisa mais  sugestiva! E agora também se concretiza a entrada triunfal dos ditos Republicanos (leia-se o governador paulista et caterva) na Esplanada dos Ministérios em Brasília. Que se cuide o governo que quer, com isso, mais votos no Congresso Nacional. Pode colher outras coisas menos desejáveis. 

Em defesa do tal Número 2, devo dizer que é para a coisa não ficar cheirando tão mal como estava. A dupla governante se inspira e aspira na tubulação de esgoto de seu mito: para este, culpados são os que estão abaixo dele. Nunca ele mesmo, suposta vestal inocente que tenta manter o nariz acima da superfície lodosa e mal cheirosa que produz incessantemente para baixo. 

Recorde-se que o tal mito tem fixação em esgotos desde seus tempos de quartel no Realengo. Não estou inventando. Está nos autos do processo a que respondeu no STM. E faz escola também, dado o grande número de seguidores que tem no Congresso e no país. 

Graças (!) a essa escola, ficamos sabendo, entre outras coisas, que a Lei Áurea não foi assinada por Isabel, mas por seu pai, o qual por sinal se encontrava no estrangeiro e só pode ter usado notebook de última geração para fazer assinatura on line, quase um século antes de serem inventados os computadores. 

Ficamos sabendo também que São Paulo tem praias refrescantes, não só várzeas que se alagavam historicamente ao longo do Tietê, Tamanduateí e Pinheiros, causando enchente e desabrigo, além do mau cheiro constante devido ao desinteresse de governantes de mesma estirpe em manter limpas e saudáveis as águas que banham a capital. 

Ó, que delícia de mares no alto da Serra do Mar! O que fazia a Secretaria de Estado do Turismo que não convidava cariocas e paranaenses a darem bons  mergulhos nesse paraíso perdido? 

Outra falha imperdoável. 

Sobrou para o Número 2! 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e estupefato.

7/9/2023

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