Concordo plenamente com o presidente Lula quando diz que a criminalização da política é ruim para o país porque acaba gerando titicas como o inominável.
Mas não concordo quando negocia com o centrão a entrega de nacos importantes da Esplanada dos Ministérios, fundos bilionários e grandes estatais, sob a justificativa da governabilidade e das votações de projetos vitais do governo na Câmara Federal.
Não confundir esse tomaládácá com a lei que o Congresso se autoconcedeu para direcionar verbas do orçamento (antes secretas) a quem bem entender. Essa é uma situação absurda e imoral que o centrão inventou para barganhar com o inominável a sua permanência na cadeira presidencial, acuado que estava por uma pilha de pedidos de impeachment. Mas virou lei, infelizmente, e as raposas que já estão dentro do galinheiro vão rir da cara de quem aparecer pleiteando a sua revogação.
O ponto agora é que o novo presidente manteve intacto o galinheiro-mór das benesses, a Codevasf, que só na sigla tem algo a ver com o desenvolvimento do Vale do São Francisco. Com o acordo entre Lira e o abominável, o órgão mudou de função, passando a ser a caverna do Ali Babá. Dessa caverna nem o presidente da República de então nem o de hoje tem a chave. Ela é propriedade do presidente da Câmara Federal.
O que se esperava do atual presidente da República é que ao menos trocasse a fechadura, mas nem isso fez. Preferiu deixar as raposas soltinhas lá dentro, podendo entrar e sair livremente. São as mesmas de ontem. E entram e saem carregadas de tesouros, hoje como dantes.
Na democracia, existem acordos que podem e acordos que não podem ser feitos. O governo Lula tem feito avanços inimagináveis nestes seis meses em áreas muito sensíveis, que precisam de muita negociação. Mas entregar o ouro para o centrão deixa as costas de seu governo muito parecidas com as do anterior.
Não pelos avanços. Mas pelas mazelas e o mau cheiro.
Só para lembrar, o rei Luís XVI tentou de todas as formas segurar-se na cadeira, negociando com os cabeças da revolução de 1789 a sua sobrevivência física e política. Chegou a concordar com uma monarquia do tipo inglês, até com menos privilégios do que na bela e calma ilha em frente.
Três anos depois, ele e a esposa perderam a cabeça.
Nelson Merlin é jornalista aposentado e preocupado.
13/7/2023