Personagem para uma história: uma garota de 18 anos. É tudo o que me ocorre diante da tela em branco do laptop. O que faço com a jovem? Bem, coloco-a em um cenário promissor… isso quando criar um, o que ainda não aconteceu. No entanto… vamos dizer que ela esteja em uma loja de carros, com o pai. Opa, já tenho alguma coisa. O pai vai comprar um carro para a filha. Por quê? Fácil. Ela conseguiu entrar na faculdade.
Questão imediata: vai estudar o quê? Direito… não, lugar-comum. Letras… sim, mas… Engenharia… hum… Medicina, Arquitetura, Ciências Sociais… Fico com Medicina. Nestes tempos de Covid posso extrair daí uma heroína. Sim, não só dedicou-se à vacinação das pessoas, como comandou equipes enviadas para fins de mundo, batalhou para não faltar vacinas, discursou contra o presidente da República…
Pensando bem… não. Cenário gasto do noticiário nos jornais e na TV. Mas, ora… Veja o que me ocorreu. Entrou na Faculdade de Medicina da USP. Clínica Geral. À medida em que avançava nos estudos (e ia muito bem), pôs-se a ajudar pessoas com problemas comuns, como gripe. Logo constatou que havia uma situação muito mais grave – a da subnutrição.
Conquistou o apoio de colegas e com eles passou a se dedicar, nas horas vagas, a prover de alimentos os necessitados. Vendeu o carro (o pai não teve como impedir) e comprou três Kombis velhas. “Kombis!”, os parentes se horrorizavam. Donos de oficina mecânica, no entanto, entenderam o que se passava e colaboraram. Nas Kombis, reformadas, os estudantes passaram a levar para os necessitados alimentação preparada, com muito boa vontade, por voluntários.
Isso foi só o começo. As “Kombis do bem”, como foram chamadas, surgiram em muitas cidadezinhas pobres do País. E a nossa jovem, agora formada, teve que se desdobrar para atender pedidos de que viajasse para esses lugarejos. A jovem médica convocava colegas, também formados, para acompanhá-la e tratar de moradores doentes.
Salvou vidas. Ajudou mamães muito pobres, com seus recém-nascidos, amparou a velhice. Muito bem, senhorita… Ora, esqueci de citar o nome dela. Chama-se Teresa, como a madre de Calcutá.
Este texto foi originalmente publicado no blog Vivendo e Escrevendo, em 5/6/2023.