Aberrações múltiplas

Esta foi uma semana rica em aberrações que vale a pena lembrar, execrar e, se possível, pedir ao Senhor que não permita repetecos. 

A primeira que me fez saltar os olhos das órbitas foi o deputado federal cassado Deltan Dallagnol dizer no Roda Viva — um programa moderno de uma emissora de tevê conceituada e séria — que a mulher deve sim ser submissa ao homem porque tal submissão está expressa na Bíblia! 

Falou assim, na lata. Como se fosse uma verdade absoluta por estar escrito nas escrituras judaico-cristãs. Ora, nelas está escrito também que a mulher foi gerada de uma costela de Adão. No entanto, todos sabemos que é impossível a nós mortais gerar uma mulher desse jeito sem matar o pobre coitado. Há outro meio de fazê-lo, que o Senhor nos concedeu, muito mais interessante, amoroso e prazeroso. 

O deputado cassado poderia ao menos convir que a bíblica submissão feminina é uma daquela coisas que mesmo nos tempos de antanho não era retratada na vida real. Era uma ficção do escriba relator, que certamente não estava num bom momento com a esposa em casa quando a escreveu. A sociedade judaica era fortemente matriarcal já naqueles dias, e homens que se atrevessem a enfrentar a matriarca estavam definitivamente fora de seu juízo natural. 

Não dá para entender em que mundo vive o ex-promotor ou onde meteu sua cabeça. 

Mas essa defecção não é exclusiva dele. O presidente Luiz Inácio também viajou na maionese ao conceber como histórico seu encontro com Nicolás Maduro em solo brasiliense, e derramar-se em rapapés para o venezuelano como fariam tietes apaixonadas — só faltando dar aqueles gritinhos histéricos que dispensam a seus ídolos. 

Maduro não é pop. Maduro não é uma narrativa. Maduro é um ditador mal disfarçado e truculento, senhor de um regime opressor e destrambelhado, que se diz socialista da boca pra fora, tal qual seu mestre Hugo Chávez, que de socialismo entendia menos do que meu barbeiro. Ele, meu barbeiro, confundia coluna social com socialismo. Mas era um bom barbeiro, afinal…

Lula não tem esse direito. Não pode confundir o regime chavista militar com as chaves que abrem as portas do paraíso para a América Latina. Maduro não é um exemplo a ser seguido. 

E por falar em ser seguido, círculos do governo acham que Boric, do Chile, é o exemplo a NÃO ser seguido, por ter se deixado cercar pela direita e extrema direita. Quack! — diria o Pato Donald dos meus gibis de menino. Não é exatamente isto o que o governo Lula está protagonizando  com a direita e a extrema direita parlamentar? Não está entregando as calças — ops, os anéis — para não perder os dedos e a governabilidade? 

Eu estava escrevendo estas mal traçadas quando fiquei sabendo da agressão da guarda venezuelana aos jornalistas brasileiros que esperavam a aparição do chefe para uma entrevista. Foi outra aberração. 

A repórter Délis Ortiz, da TV Globo,  chegou a levar um soco no centro do peito, em frente ao esterno, o que poderia matá-la. E não se viu nenhuma voz levantar-se no governo e na imprensa, exceto o Jornal Nacional de terça-feira, para condenar a agressão!  

 Onde estamos? Estamos numa semana, como se vê, que mal começou. 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e estarrecido.

1º/6/2023

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