Sei que muitos gostaram, mas não me agradou a aprovação do Flávio Dino para o STF. Não pelos mesmos motivos dos que não o queriam de jeito nenhum lá. Muito pelo contrário. Eu queria que ele continuasse ministro de governo e não do Supremo. Mas o presidente Luiz Inácio não quis assim. Não sei o que ele vai ganhar com isso, mas eu perdi.
Primeiro, porque fiquei sem meu candidato para a eleição de 2026, se Lula fizesse a gentileza de deixar o palanque para Dino.
Segundo, porque o Dino é um dos únicos dois ministros de Lula diante dos quais os bolsonaristas viram boneco inflável de posto de gasolina. Dino e Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, fazem os bolsonaristas rebolar sem bambolê, para lembrar outro brinquedo, esse dos meus tempos de infância.
Os embates dos representantes do gado com Dino me faziam dar boas risadas. O Dino não vai mais me fazer rir. E o Sílvio Almeida não é gordo, o que tira metade da graça. Bolsonaristas são gordofóbicos e isso tornava as coisas ainda mais divertidas.
Mas, enfim, o Lula deve saber mais do que eu o que lhe passa pela cabeça. Imagino a trabalheira que ele iria ter para emplacar Dino como candidato do PT em 2026. Se nem o Haddad estão engolindo redondo, que dirá o Dino.
Mas Haddad é prata da casa e eu acho que tem chance em 2026, ante as perspectivas econômicas do triênio 2024/26 com as grandes reformas e medidas que ele está conseguindo emplacar num Congresso adverso, neste primeiro ano de sua gestão na Fazenda.
Acho que Lula abriu a porteira para ele ao promover Dino ao STF — caso se sinta cansado para repetir a dose em 2027/2030. Lula me parece estar mais interessado em preparar sua sucessão e restabelecer a galope sua biografia ante o Brasil e o mundo do que enfrentar oito anos de governo. Quatro estão de bom tamanho, se deixar um legado apreciável o bastante para ofuscar as lambanças do PT no passado e a sua própria leniência diante delas.
Lula me parece ter pressa nisso e passar o bastão para Haddad em 2026 não é missão impossível hoje. O “fogo amigo” dentro do PT contra ele vira fumaça para o vento levar, se nos próximos três anos colher, como se espera, os frutos que semeou e as pedreiras que escalou em 2023.
Nelson Merlin é jornalista aposentado e sem candidato.
21/12/2023