A bordo, tudo azul

 Tenho vontade de rir quando vejo certas coisas. Li há pouco que o ex-imbrochável falou com um repórter da Folha de S. Paulo no avião que o levava de Brasília à Pauliceia para exames médicos de rotina. O repórter saiu da rotina e quis saber se ele tinha mesmo mandado mensagens com conteúdos falsos sobre as urnas eletrônicas, as vacinas e uma ameaça de guerra civil para empresários amigos do peito dispararem Brasil afora antes das últimas eleições. 

O ex-imbrochável respondeu com a cara mais limpa: “Mandei sim, qual o problema?”

Eu se fosse o repórter teria perguntado se ele não tinha medo de ir para a cadeia por causa disso. E imagino que o ex poderia responder de duas formas, a saber. 

A primeira seria a de cerrar os dentes da nova dentadura que emplacou há poucos dias e num acesso de fúria encher a boca do repórter de porrada. Como prometeu que ia fazer anos atrás e não fez, diante de outro repórter impertinente que agora não me lembro de que jornal ou tevê era. 

A segunda seria saltar da cadeira e sair saltitando e dando voltas pelo salão, quero dizer pelo corredor do avião, cantando “me prendam aí, me prendam aí, que o que eu quero é ir pra Papuda e daí?”, compondo marchinha animada para o próximo 7 de setembro. 

Mas ele já disse aos seus que não quer mais saber de comemorações no dia da Independência. Que pena. 

E por não ter feito a bordo nem uma coisa nem a outra, fico com a impressão de que o ex-imbrochável brochou mesmo. Não parece mais aquele capitão reluzente, embora seus dentes brilhem mais agora do que dantes. 

Também está precisando dar um “tapa” na pele daquele rosto, que está muito encaroçada. Melhoraria muito a faccia e, por consequência, a imagem entre os seus. Mas não sei se daria tempo, porque a Polícia Federal marcou a data do interrogatório para dia 31 — pegando de baciada no mesmo dia a princesa e um outro enrolado cidadão de quem agora não me recordo o nome e não vale a pena parar a pena aqui para procurar. 

Encerro com aviso: que o ex-capitão tome atenção. Ele corre o sério risco de sair da PF direto para a Papuda, se responder ao delegado o que respondeu ao repórter da Folha no avião. Mas parece que não está ligando não. Afinal, é o que ele mais deseja faz tempo. 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e previdente. 

24/8/2023

     

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