Fiquei profundamente, apatetadamente triste com a eliminação do Brasil na Copa do Mundo do Catar. Ao mesmo tempo, vi que estava tendo reações completamente diferentes das de boa parte das pessoas. E, diacho: não acho ruim essa coisa de remar contra a maré, não. De forma alguma.
Está aí uma porrada de gente metendo o pau na Seleção, de forma ampla geral irrestrita, e especificamente no Tite e no Neymar. A Seleção jogou mal pra cacete. Foi culpa do Tite por ter tirado o Vini Júnior. Foi culpa do Tite porque o Tite sempre foi uma porcaria horrorosa. Foi culpa do Neymar que é bolsonarista, e bastaria o fato de ele ser bolsonarista para a culpa ser dele, mas além de tudo ele jogou mal pra cacete.
Acho que o Tite fez um trabalho maravilhoso durante todos estes anos em que dirigiu a Seleção. Pegou, nas eliminatórias para a Copa de 2018, um time que perigava não ser classificado, pela primeira vez na História, pela primeira vez desde 1930, e o transformou num time competitivo.
Como é que é? 81 jogos, 6 derrotas, 15 empates, 60 vitórias.
Acho que Neymar é um craque, e fez muito bem à Seleção nos três jogos que disputou no Catar.
Acho que o Brasil jogou melhor do que a Croácia – mas aconteceu de perder nos pênaltis. A Argentina jogou melhor que a Holanda – e aconteceu de ganhar nos pênaltis. Isso é assim mesmo, o futebol é assim mesmo, caixinha de surpresas. Breviário contra a lógica.
Futebol não tem lógica. Até porque é jogo, e jogo, por princípio, pela lógica, não tem lógica.
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Mas a coisa não é o futebol – coisa, aliás, que não entendo, jamais entendi. Sou apenas um espectador um tanto distante, diletante. Ou, melhor dizendo, a coisa não não é só o futebol.
A coisa é a postura política.
Não gosto nada, nada, nada da postura de quem gosta de misturar futebol com política. Seja Garrastazu Médici, que defendia esse ou aquele jogador e odiava João Saldanha por “ser comunista”, sejam os lulo-petistas que odeiam Neymar porque o cara é bolsonarista.
São coisas completamente diferentes, são universos à parte. Uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra.
A parte do cérebro de Neymar que apóia Bolsonaro não tem nada a ver com a parte do cérebro dele que manda na sua visão de jogo, na sua capacidade de driblar, de dar passes, de chutar a gol.
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, diabo!
Pelé foi crucificado porque disse que brasileiro não sabe votar. Mas, diabo, brasileiro não sabe votar mesmo. Brasileiro elegeu Bolsonaro deputado sei lá quantas vezes, um porrilhão; elegeu os zeros todos diversas vezes. Nas últimas eleições, agora, brasileiro elegeu o pior ministro da Saúde de todos os tempos, o general idiota que não sabe o que é Amapá, e deixou de fora do Congresso o melhor ministro da Saúde de todos os tempos, José Serra, o cara que levou à criação dos medicamentos genéricos, para lembrar de apenas um de seus maravilhosos gols.
Aliás, José Serra, o sujeito mais capacitado para ser presidente da República que já houve na História deste país, foi derrotado por Dilma Rousseff, aquela gênia da humanidada, a mulher sapiens, que enfiou o país na mais profunda crise econômica de sua história.
Mas o errado é o Pelé.
Embora o não saber votar não seja privilégio brasileiro. Vide Trump, Brexit, para dar apenas dois exemplos.
Ahnnn… Viajei um pouquinho pra longe do tema principal…
Ou não. O tema principal é que, mais uma vez, como em tantas outras vezes, eu vou contra a maré.
Hoje, neste dia triste em que a Seleção foi eliminada pela Croácia, apesar de jogar muito melhor que ela, me sinto remando contra a maré de meter o pau na Seleção, em especial no Tite e no Neymar.
Não é uma sensação ruim remar contra uma maré babaca.
9 e 10/12/2022