Meu amigo marciano não vai levar só as urnas eletrônicas para Marte.
– ” Vou levar também aquele careca que se veste de verde e amarelo”, disse. “E também aquele patriota agarrado na frente do caminhão”, acrescentou.
– “E eu não poderia deixar para trás o ex-capitão que perdeu a reeleição depois de comprar os votos de metade do eleitorado de seu adversário”, arrematou.
Meu espanto foi tanto que perguntei o que ele ia fazer com eles em Marte. A resposta veio na ponta da língua:
– “O careca vou levar para o zoológico, o patriota para a televisão e o ex-capitão para o manicômio judiciário. Estamos com falta de atrações por lá.”
– “Ah, sim, estava me esquecendo daquele alemão grandalhão de bermuda e pantufas vermelhas marchando aos berros na frente de um quartel de vocês”, lembrou. “Esse eu vou levar para o museu Confins da Terra que vamos inaugurar em janeiro. Marte está muito sem graça e precisamos dar uma chacoalhada na nossa vida.”
– “Desses todos aí qual foi o que você mais gostou?”, perguntei.
– “Essa é uma pergunta de 1 milhão de dólares. Tudo depende do ponto de vista. Mas acho que o patriota do caminhão é único em todo o universo”, respondeu. “Ainda mais depois do que contou numa entrevista ao ser localizado parece que na Paraíba.”
– “Não vi. O que foi que ele disse?”, arrisquei.
– “Disse que tá passando vergonha, que virou piada mundial, que os filhos não param de rir da cara dele e até a mãe, quando olha pra ele, chama ele de otário!”
– “Putz!”, exclamei.
– “É a coisa mais surreal que já vi em todo o espaço sideral”, anotou.
– “Também acho”, falei. “Mas o alemão é muito louco, doido demais”, agreguei. “Ele merece um lugar especial.”
– “Sim, vamos botar ele desfilando no salão dos dinossauros, indo e voltando e batendo continência para aquele monte de ossos. Nosso dino tem 140 metros de comprimento, por causa de um rabo que não termina nunca. O alemão vai adorar e o público vai pedir bis.”
– “Mas e o ex-capitão, vocês vão jogar ele no manicômio e ninguém vai ver?”
– “Não, vamos tratar com carinho e destaque. Criamos um local para ele nos jardins da frente, logo na entrada. Todo mundo vai ver ele vestido de Napoleão conversando com as emas marcianas e dando caixinhas de cloroquina pra elas. Só que as nossas emas são muito espertas e vão dar corridões nele toda vez que chegar perto delas. Ele diz que sempre foi atleta, então não vai se cansar.”
– “E o véio da Havan?”
– “Esse é muito louco também, né? Vamos botar ele na jaula dos gorilas marcianos. Nossos gorilas são tranquilos, pode deixar que não vão fazer mal nele. Só que ele não sabe disso…”
Maldade!
Nelson Merlin é jornalista aposentado e fanfarrão.
Novembro de 2022