Há um país a pacificar

No décimo-primeiro dia após vencer a eleição presidencial e, assim, afastar do país a perspectiva tenebrosa, apavorante, de um segundo mandato do pior chefe de Estado da História, Lula pisou no tomate.

Vinha bem. Vinha muito bem. Ainda na noite do domingo do segundo turno, 30/10, havia lido uma beleza de discurso, dirigido a todos os brasileiros, não apenas a seus eleitores, um discurso de estadista. Havia colocado como coordenador da transição o seu vice, Geraldo Alckmin, e não Gleisi Hoffman, e ao longo desse tempo os sinais todos passados pela equipe de transição eram de que – conforme prometido entre o primeiro e o segundo turnos – o próximo governo não seria apenas do PT, mas também do conjunto de forças que apoiara sua candidatura logo após o primeiro turno.

Na quinta-feira, 10/11, Lula pisou no tomate.

“O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu acabar com o clima de lua de mel que havia se criado em torno de sua eleição”, escreveu em editorial O Estado de S. Paulo. E mais adiante: “Ao insistir em manter um clima de campanha, comportamento que, aliás, lembra muito o de seu antecessor, Lula desmoraliza os esforços de seu próprio gabinete de transição, que vinham sendo bem conduzidos por Alckmin. Responsabilidade fiscal, afinal, não é capricho: é condição obrigatória para reconstruir as políticas públicas devastadas por anos de bolsonarismo. É hora de descer do palanque.”

Pois é: é hora de descer do palanque, mas “Lula voltou ao palanque”, como escreveu Eliane Cantanhêde em artigo no Estado. “O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva ia muito bem, na articulação de apoios e nas manifestações, mas começou a tropeçar nas palavras. (…) Errou no tom e no discurso, que agrada ao PT e à esquerda, mas não convém a um governo de união, comprometido com o desenvolvimento sustentável. Para repetir o óbvio, a prioridade de combater a miséria, precisa atacar princípios de boa governança e uma política econômica responsável? (…) Não deveria voltar a falar mal da herança de FHC nem atacar Bolsonaro e meter as Forças Armadas no meio. É hora de deixar Bolsonaro para trás e olhar para frente. Sem ódio e com responsabilidade. Aliás, não só fiscal.”

É preciso descer do palanque. Há uma país a pacificar, como diz Vera Magalhães, com toda propriedade, no Globo desta sexta-feira:

“Lula tem a missão de pacificar um país que continua a ser inflamado pelo bolsonarismo. É preciso descer do palanque. (…) O discurso de Lula nesta quinta-feira foi desastroso em mais de um aspecto. É preocupante que alguém tão experiente, diante de um país cindido ao meio, com um caos institucional instigado pessoalmente pelo atual ocupante do Palácio do Planalto e a par da delicada situação fiscal que herdará, se ponha a falar com a falta de compromisso de quem está em cima de um caminhão de som.”

E a fala destrambelhada de Lula não foi ruim apenas no ataque à “tal estabilidade fiscal”, mas também na forma com que se referiu aos erros seguidos que vêm sendo cometidos por altos oficiais das Forças Armadas. Como diz mais um trecho do artigo de Vera Magalhães:

“Cobrar a responsabilidade das Forças Armadas com seu papel constitucional não deve ser confundido, em nome dos interesses do próprio governo que se anuncia, com tripudiar sobre uma suposta “humilhação” dos militares, pois isso apenas faz com que eles se aproximem ainda mais de Bolsonaro, com quem construíram uma identificação e de quem receberam benesses e status nos últimos anos. Desmontar esse aparato que mistura perigosamente as funções institucionais das Forças com um papel político que coloca em xeque a própria democracia requer diplomacia, serenidade e inteligência. Os três atributos passaram longe do discurso palanqueiro de Lula na quinta-feira.”

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Analistas podem argumentar que o discurso destrambelhado da quinta-feira no CCBB de Brasília era necessário para acalmar o público interno, os petistas velhos de guerra, talvez assustados com tanta importância dada a Geraldo Alckmin, com espaço aberto para os “neoliberais” Persio Arida e André Lara Resende, para Henrique Meirelles, para Simone Tebet.

Ah, tinha que acalmar os petistas velhos de guerra? Fizesse isso em ambiente fechado, diretamente para os petistas velho de guerra, uai! Faz mais de 42 anos, quase 43, que Lula enquadra os petistas velhos de guerra e os força a seguir sua ordem unida. Por que acalmar os petistas velhos de guerra espantando o resto do país inteiro?

Como escreveu minha amiga Silvia Torika no Facebook:

“Lula, pelamord’D’us, pare de falar de improviso. Da próxima vez que quiser falar, apele ao escriba que perpetrou o discurso do dia da vitória.

Improvisos, só en petit comitê. Talquei?”

E se alguém reclamar que, pô, temos que preservar o Lula, o homem ainda está formando o governo, cabe o que disse outro amigo, o Mário Lúcio Marinho:

“Não podemos nos comportar como a turma do cercadinho que aplaudia e perdoava qualquer bobagem que o Bozo falava.”

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         Bem, há uma outra visão, uma outra forma de analisar a fala de Lula no CCBB de Brasília na quinta-feira. Artigo de Maria Cristina Fernandes no site do jornal Valor, ainda na própria quinta, afirma que “o discurso de Lula foi o de um cabo eleitoral pela PEC das Transição”. “É um presidente eleito discursando para o colégio eleitoral de uma proposta que precisa de 308 votos na Câmara e 49 no Senado para que o governo se mantenha em pé em 2023”, escreveu a jornalista. “Não significa que vai mandar às favas a regra de ouro para recuperar a Farmácia Popular, como sugeriu. Tampouco vai virar de ponta-cabeça a relação entre capital e trabalho ou adotar o índice sofrência para a estabilidade fiscal”.

Seguem abaixo as íntegras dos artigos de Vera Magalhães, Eliane Cantanhêde e Maria Cristina Fernandes, e do editorial do Estado.

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Hora de descer do palanque

Por Vera Magalhães, O Globo, 11/11/2022

É preciso descer do palanque. Luiz Inácio Lula da Silva precisa se despir do figurino de candidato que envergou ao longo de sucessivas eleições e se assenhorar do aparato de presidente que envergou por oito anos, mas ciente de que encarará uma realidade completamente distinta.

E Jair Bolsonaro precisa entender que perdeu as eleições de forma limpa, e o que lhe resta é governar por esses pouco menos de dois meses de mandato — algo a que vem se furtando nos últimos meses, notadamente desde o segundo turno.

O discurso de Lula nesta quinta-feira foi desastroso em mais de um aspecto. É preocupante que alguém tão experiente, diante de um país cindido ao meio, com um caos institucional instigado pessoalmente pelo atual ocupante do Palácio do Planalto e a par da delicada situação fiscal que herdará, se ponha a falar com a falta de compromisso de quem está em cima de um caminhão de som.

Ao colocar em xeque as metas de inflação, com que, diga-se, se comprometeu ao longo dos oito anos que governou, Lula ignora algo que deveria estar careca de saber: diante de um quadro de descontrole inflacionário, quem paga a conta são justamente os mais pobres, com quem selou um compromisso de campanha legitimado nas urnas por mais de 60 milhões de brasileiros.

Para cumprir essa plataforma sagrada, vitoriosa na eleição, ele não precisa, nem pode, decretar o fim da “tal” estabilidade econômica, pois sem ela só aprofundará o fosso social agravado nos quatro anos de Bolsonaro. Ele sabe disso, e seu entorno também.

Com a fala de apelo populista de que a verdadeira regra de ouro é que ninguém deve passar fome, Lula passa aos agentes econômicos e a investidores que o Brasil precisa atrair a impressão de que não está nem aí para o princípio segundo o qual o governo não pode contrair dívida para pagar despesas correntes, outro que observou quando governou. Foi uma declaração absolutamente desnecessária.

A junção do elogio da gastança à nomeação de praticamente todo o escrete petista dos governos Lula e, sobretudo, Dilma Rousseff produziu a tempestade perfeita. Lula não foi eleito por saudades do PT, e parece que essa ficha não lhe caiu ainda.

Diante disso, não adianta o presidente ainda ironizar o “nervosismo” do mercado, porque tanto essa tensão quanto a insistência de Bolsonaro em tragar as Forças Armadas para um questionamento inadmissível do resultado das eleições só contribuem para tumultuar a transição e o início de seu próprio governo. Para tirar suas promessas do papel, Lula precisará não de sua retórica inflamada, mas de uma grande concertação que acalme a fatia derrotada do eleitorado, retire o receio de quem produz, emprega e investe — e atraia o apoio do Congresso.

É isso que fará Bolsonaro recolher sua sanha golpista. O contrário só contribuirá para atiçá-la. O presidente eleito está correto em questionar o fato de os mesmos que se chocam com suas falas não verem a grande instabilidade propiciada por um presidente que abdicou de qualquer responsabilidade administrativa em nome de uma conspirata, aquartelado no Alvorada.

Cobrar a responsabilidade das Forças Armadas com seu papel constitucional não deve ser confundido, em nome dos interesses do próprio governo que se anuncia, com tripudiar sobre uma suposta “humilhação” dos militares, pois isso apenas faz com que eles se aproximem ainda mais de Bolsonaro, com quem construíram uma identificação e de quem receberam benesses e status nos últimos anos. Desmontar esse aparato que mistura perigosamente as funções institucionais das Forças com um papel político que coloca em xeque a própria democracia requer diplomacia, serenidade e inteligência. Os três atributos passaram longe do discurso palanqueiro de Lula na quinta-feira.

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“A tal da estabilidade fiscal”

Por Eliane Cantanhêde, O Estado de S. Paulo, 11/11/2022

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva ia muito bem, na articulação de apoios e nas manifestações, mas começou a tropeçar nas palavras. E começou cedo, numa área muito delicada: a economia. Chorar ao falar da fome é digno de Lula, de sua biografia e de seus compromissos de campanha, mas atacar “a tal estabilidade fiscal”? Como assim?

É coisa para um Jair Bolsonaro em guerra com o submisso Paulo Guedes, não para um Lula em incessante busca de apoios. A reação foi rápida: o mercado se alvoroçou, o dólar disparou para R$ 5,39, a Bolsa caiu. Desnecessariamente.

A responsabilidade fiscal não é uma maldade para beneficiar banqueiros, mas obrigação de um governo sério para proteger a todos, principalmente os mais pobres. Estourar as contas públicas é tirar dinheiro de quem mais precisa do Estado e soa como o velho mantra de que “um pouco de inflação não faz mal a ninguém”. Faz, sim, mais ainda para os pobres que Lula acha que está defendendo ao atacar a responsabilidade fiscal.

Na quarta, Lula foi no ponto, ao enfatizar suas prioridades, falar da “dívida social de 500 anos com os pobres” e definir, em tese, a diferença entre gastos e investimentos quando se trata de educação, saúde e pobreza – de gente, enfim. E deu um passo adiante, mas no limite: “Guardar dinheiro para pagar dívida de banqueiro?”

Faz sentido, sem jogar para o alto a responsabilidade e sem atrapalhar o objetivo maior, de manter força na sociedade, sólida base no Congresso e confiança dos setores produtivos e financeiros, para botar o barco na água, navegar com segurança em águas turvas e fazer a transição até a terra firme.

Nesta quinta-feira, 10, porém, Lula voltou ao palanque: “Por que as pessoas falam que é preciso cortar gastos, fazer superávit e teto de gastos?”. Pôs Janja num lugar que não cabe a ela e errou no tom e no discurso, que agrada ao PT e à esquerda, mas não convém a um governo de união, comprometido com o desenvolvimento sustentável. Para repetir o óbvio, a prioridade de combater a miséria, precisa atacar princípios de boa governança e uma política econômica responsável?

Lula acerta na transição com Persio Arida e André Lara Resende, bons quadros petistas, aliados e mulheres admiráveis, batendo nas teclas da “normalidade”, “harmonia entre os Poderes”, “reconstrução”, “esperança”. Não deveria voltar a falar mal da herança de FHC nem atacar Bolsonaro e meter as Forças Armadas no meio. É hora de deixar Bolsonaro para trás e olhar para frente. Sem ódio e com responsabilidade. Aliás, não só fiscal.

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Lula ainda está no palanque

Editorial, O Estado de S.Paulo, 11/11/2022

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu acabar com o clima de lua de mel que havia se criado em torno de sua eleição. Com o fim antecipado do calamitoso governo Jair Bolsonaro, todas as atenções se voltaram para os trabalhos da equipe de transição, a escolha dos nomes que farão parte desses grupos técnicos e, sobretudo, a política econômica que vai nortear a administração petista. Mas a chegada de Lula a Brasília pôs por terra as ilusões de que a responsabilidade fiscal será um marco de seu terceiro mandato.

A nomeação de Geraldo Alckmin como chefe do gabinete de transição havia gerado expectativas positivas sobre o futuro governo, a ponto de conter a desconfiança gerada pela onipresença dos ex-ministros Gleisi Hoffmann e Aloizio Mercadante na coordenação dessas atividades. A escolha do grupo que fará as propostas para a área econômica foi bem recebida, ainda que insuficiente para sanar as incertezas a respeito da condução da economia. As articulações em torno da elaboração de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para retirar os gastos do Bolsa Família do teto de gastos, no entanto, foram malvistas. A tudo isso se somou a dura realidade, com a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro comprovando a força e a consistência da inflação.

Depois de se reunir com autoridades do Legislativo e do Judiciário, num esforço para resgatar a institucionalidade das relações entre os Poderes, Lula foi ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) para encontrar parlamentares. Era o momento para aproveitar a visibilidade que a eleição lhe conferiu para se apresentar como um estadista à altura dos desafios do País que assumirá em menos de dois meses. Suas falas, no entanto, lembraram o período de campanha, quando os candidatos abusam do pensamento mágico para prometer o que podem e o que não podem cumprir. Esse é um papel que Lula perdeu o direito de interpretar a partir do momento em que se sagrou vencedor da disputa presidencial, em 30 de outubro.

“Por que as pessoas são levadas a sofrer por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal desse país? Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos, que é preciso fazer superávit, que é preciso fazer teto de gastos? Por que as mesmas pessoas que discutem teto de gastos com seriedade não discutem a questão social neste país?”, questionou Lula. O presidente eleito fez comparações descabidas, chegando a criticar a existência de metas de inflação e a ausência de um regime de metas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Voltou também a defender a ideia de que há gastos que precisam ser encarados como investimento, como se questões semânticas fossem capazes de resolver o descalabro fiscal em que o País se encontra. “É um discurso de PT pelo PT, que ignora os apoios recebidos”, definiu a economista Elena Landau, em entrevista ao Valor.

O mercado financeiro reagiu imediatamente. A bolsa despencou, a curva de juros subiu e o câmbio disparou. Em menos de dez dias, toda a boa vontade com o governo eleito acabou. Se Lula pensava em adiar a escolha da composição de sua equipe econômica e dos futuros ministros da Fazenda e do Planejamento para conter brigas entre aliados, seu próprio discurso o emparedou perante os investidores. Agora, somente o anúncio de um nome efetivamente comprometido com a responsabilidade fiscal poderá reverter as péssimas expectativas que se formaram a respeito de seu futuro governo.

Se a construção da narrativa de uma frente ampla funcionou para a eleição, ela é insuficiente para montar um governo de coalizão. Ao insistir em manter um clima de campanha, comportamento que, aliás, lembra muito o de seu antecessor, Lula desmoraliza os esforços de seu próprio gabinete de transição, que vinham sendo bem conduzidos por Alckmin. Responsabilidade fiscal, afinal, não é capricho: é condição obrigatória para reconstruir as políticas públicas devastadas por anos de bolsonarismo. É hora de descer do palanque.

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Discurso de Lula foi o de um cabo eleitoral pela PEC das Transição

Por Maria Cristina Fernandes, Valor, 10/11/2022

O mercado ficou nervoso com o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos parlamentares de sua base hoje em Brasília, mas quem deveria ter se inquietado mesmo é o deputado Arthur Lira (PP-AL).

Ao dizer que o país precisava voltar à civilidade, Lula mencionou sua visita ao presidente da Câmara: “Muita gente achava que Lula não iria conversar com Arthur Lira. Sei o que ele pensa, sei que ele é meu adversário, mas ele é o presidente da Câmara eleito pelos deputados. E a eleição da Mesa continuará sendo responsabilidade de vocês. O presidente da República precisa dialogar.”

Tudo que Lira não quer é ser identificado como um adversário de Lula. Ninguém que vá disputar a Presidência da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados quer fazê-lo na condição de adversário do presidente da República. Pelo menos não se o mandatário for Lula.

Em momento algum Lula se colocou contra a reeleição de Lira, mas agiu como cabo eleitoral da PEC da Transição, da qual depende seu primeiro ano de governo. Primeiro foi paternal com os parlamentares que ali estavam e que haviam perdido a eleição. Disse que isso não os diminuía, apenas revelava que seu discurso não havia sido “compreendido” pelo eleitor, sitruação que viveu nas três vezes em que foi derrotado na disputa pela presidência da República.

Depois ele sinalizou com a possibilidade de abrigar os parlamentares que serão desalojados do Congresso, seja na transição seja no que chamou de “governança”, inibido, talvez, em falar “governo”. Ou seja, mostrou, para quem ainda não havia percebido, que ele terá à sua disposição os recursos do poder. Não baterá chapa com Lira mas não vai ficar inteiramente na mão dele para aprovação da PEC.

Além disso, Lula valeu-se de seu arsenal de recursos emocionais, como o choro, para sinalizar àqueles parlamentares que permanecerão no Congresso que poderão ser sócios de uma empreitada épica, e de fartos dividendos eleitorais, que é o de acabar com a fome do país.

É nesse contexto que deve ser entendido o discurso de Lula. É um presidente eleito discursando para o colégio eleitoral de uma proposta que precisa de 308 votos na Câmara e 49 no Senado para que o governo se mantenha em pé em 2023.

Não significa que vai mandar às favas a regra de ouro para recuperar a “Farmácia Popular”, como sugeriu. Tampouco vai virar de ponta-cabeça a relação entre capital e trabalho ou adotar o índice sofrência para a estabilidade fiscal.

Trata-se de um presidente eleito que continua em campanha, agora no Congresso. Se falar em corte de gastos, perde os votos que precisa para começar a governar, mas não vai chutar o pau da barraca fiscal como o repique do dólar e a queda na bolsa sugerem.

É óbvio que seu governo terá que ir além de uma nova âncora fiscal e mostrar que, além de aumentar gasto, também será capaz de cortar. Mas a missão dele naquele auditório brasiliense era outra.

O teto de gastos foi furado cinco vezes no governo Jair Bolsonaro sem rebuliços proporcionais. O atual presidente furaria uma sexta vez se tivesse sido reeleito porque seu programa de governo tampouco cabia no Orçamento. O show de Lula pode ser resumido como um pedido de licença para começar a governar com um Orçamento alheio.

Como não pode controlar a zoada nos camarotes do mercado, é provável que a reação desta quinta-feira o convença de que, na volta da COP27, não terá como adiar mais a nomeação de um ministro da Fazenda capaz de convencê-los do seu plano de voo para que os 12 anos com que o lulismo se projeta não sejam mais confundidos com os 45 dias de Liz Truss.

11/11/2022

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