Mais uma vez, Jair Bolsonaro não entendeu nada. A vacina pode proteger uma pessoa contaminada por coronavírus de adquirir, na forma grave, a doença Covid-19. Mas não impede que os imunizados repassem o vírus para as pessoas ainda não vacinadas, que hoje constituem a imensa maioria da população, pouco menos de 90% dos brasileiros.
Apesar de os recuperadas de Covid-19 e os vacinados correrem muito menos risco de internação ou de morte, em caso de contaminação, nem o fato de já ter tido a doença nem vacina alguma oferece 100% de imunidade. Provavelmente, se pessoas curadas da doença ou já vacinadas adoecerem, será de forma leve, ou até assintomática. A não ser que surja alguma nova cepa sobre a qual a vacina não tenha efeito.
Segundo cansam de explicar os infectologistas e epidemiologistas, a vacina combate os efeitos mais maléficos da doença Covid-19 no corpo humano, mas não impede que o vírus entre no organismo de um indivíduo imunizado.
Portanto, máscaras continuam sendo fundamentais para proteger os vacinados ou curados de Covid-19 das novas variantes. E, mais ainda, para evitar que eles se transformem em agentes transmissores do coronavírus.
A OMS e todos os especialistas no assunto recomendam que a máscara somente seja dispensada quando cerca de 70% dos brasileiros estiverem vacinados. Com isso, ocorreria a chamada imunidade de rebanho e o vírus deixaria de circular entre a população.
Imunizado ou não, quem circula hoje sem máscara pode simplesmente causar a morte de outras pessoas.
Mas as opiniões de Bolsonaro, como sempre, colocam em dúvida a sua capacidade cognitiva.
O próprio ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, relatou em entrevista diversas tentativas frustradas de explicar a forma de atuação do vírus para Bolsonaro. Tentou inutilmente esclarecer que a transmissão em massa deveria ser barrada por medidas sanitárias, para evitar a superlotação dos hospitais.
Segundo Mandetta, por mais didática e simplória que fosse a explanação, Bolsonaro não conseguia absorver nem as informações mais básicas.
E é justamente esse homem que vem impondo a última palavra nas ações do Ministério da Saúde, quando as decisões sobre a pandemia deveriam ser técnicas, nunca políticas, ou baseadas em meros palpites de um leigo. Irresponsavelmente, Bolsonaro tenta exercer, na prática, a função de ministro da Saúde, num país com quase 500 mil vítimas da doença.
Para tornar o quadro ainda mais sombrio, o ministro Queiroga, mesmo possuindo conhecimentos médicos, não é especialista em virologia ou em vacinas, por ser um cardiologista. Mesmo assim, ele, incrivelmente, informou à CPI que não conta com nenhum infectologista entre os seus assessores no militarizado Ministério da Saúde.
Como o ministro Queiroga até agora demonstrou ter o mesmo mesmo grau de altivez de um Pazuello, ninguém pode apostar que ele irá resistir às pressões do chefe. Assim, só o que resta é torcer muito para que ele não aceite mergulhar ainda mais fundo no poço da desmoralização, castigando os brasileiros com a dispensa antecipada do uso de máscaras.
Prefeitos e governadores têm autonomia para não obedecer a mais essa ordem absurda, mas a palavra de um presidente irresponsável e aliado do vírus ainda encontra eco em milhões de brasileiros menos informados.
11/6/2021