Surreal!

Tive de procurar no dicionário uma palavra que definisse bem os fatos ocorridos nesta semana e achei essa que caiu como uma luva. Surreal: aquilo que se encontra além do real, que denota estranheza, transgressão da verdade sensível, da razão ou que pertence ao domínio do sonho, da imaginação, do absurdo. 

Começando a tentar decifrar esse 7 de Setembro, muito diferente daquele do meu tempo que era marcado por desfile de alunos de todas as escolas e de pracinhas do Exército, marchando ao som da fanfarra.

O que foi aquilo? Hordas de alucinados pedindo intervenção militar, fechamento do STF e do STJ, do Congresso e do caraleo a quatro, ao mesmo tempo em que pedem liberdade? Não é surreal? Se isso parecer normal para alguém, por favor, desenhe para que eu possa entender que liberdade se pode ter quando só um decide o que é bom e o que é ruim pro povo.

Mas até aí a gente dá um desconto, porque essas pessoas que idolatram mitos não se aprofundam em conhecimentos políticos, mal sabem que fechamento de instituições significa ditadura. A mesma que eles condenam em países que ainda são regidos por esse sistema. Ah, mas eles são comunistas, argumentam alguns. E se esquecem de que ditador pode ser um radical de direita, um fascista, um nazista sanguinário, que elogia torturador, e que prefere matar seu povo com cloroquina do que lhe dar vacina.

Dois dias depois dessa loucura comandada pelo paciente mais eloquente do hospício, aquele que se acha no direito de subir num palanque pra pedir a cabeça de um ministro do STF (será que ele não gosta de carecas?), mais um fato surreal acontece.

Alguns caminhoneiros levados pelo som do berrante tocado por um tal Zé Trovão e pelo próprio presidente resolveram que fechar as estradas seria um ato de bravura que entraria para o livro dos grandes feitos da História.

Só que fizeram uma cagada tão grande que vão acabar entrando mesmo para o anedotário nacional e internacional.

Olha o ridículo do movimento. Primeiro que não teve adesão de toda a classe. Muitos se emputeceram porque queriam trabalhar mas foram impedidos. Segundo porque foi uma palhaçada do começo ao fim.

Acostumados a “trabalhar” movidos pelo WhatsApp, depois de algumas horas paralisando estradas, circulou um áudio do próprio Bolsonaro pedindo para que desistissem do bloqueio, que isso só iria causar desabastecimento, provocar mais inflação, etcetera e tal.

Fizeram o que quando ouviram? Não acreditaram! Acharam que era fake news (deixe aqui sua risada). Como poderia ser verdade se quem tava pedindo pra parar a paralisação era o mesmo que tinha pedido pra paralisar?

O ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas teve de expor em vídeo sua cara de areia mijada pra confirmar o áudio do presidente.

Enquanto esse vídeo rolava nas redes sociais, outro gravado pelo Zé Trovão também entrou no ar pra pedir pro presidente resolver logo essa situação, mais ou menos nesses termos: Tamos sem saber o que fazer, presidente. Vem falar com a gente, manda um sinal, um e-mail, um telefonema, uma mensagem no Zap com um coraçãozinho pra dizer que tamo junto, qualquer coisa, porque a gente tá mais perdido que cachorro em dia de mudança. É pá pará o pá paralisá?

E pra apertar ainda mais o nó na cabeça dos caminhoneiros, o humorista Marcelo Adnet também solta um áudio e, imitando a voz do presidente, provoca uma dura batalha entre os ticos e os tecos dos participantes: “o áudio que circulou é falso e este é o verdadeiro para vocês permanecerem aí e começaram a dançar Macarena agora 3h15 da manhã e não pararem mais. Não quero ver ninguém na boleia, hein? Todos para fora dos caminhões, dançando a Macarena até aquele outro pedir pra sair, tá ok?

E como é tudo tão surreal, não causaria estranheza passar por uma estrada e ver caminhoneiros trançando seus braços e cantando alegremente o refrão: dá ao seu corpo alegria, Macarena, Ei Macarena!

E para encerrar com chave de ouro as “surrealices” da semana, temos um Bolsonaro com voz de Michel Temer pedindo desculpas pelas palavras insanas do 7 de Setembro, ditas “no calor do momento”.

Ou será que foi o Adnet que pediu desculpas?

 

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