Pé na Jaca!

Até que ponto a novela imita a vida ou a vida imita a novela?

Nesta semana, personagens do nosso cenário político enfiaram o “Pé na Jaca” e acabaram criando um clima de “Bang-Bang” no país, com decisões pra lá de polêmicas em assuntos diretamente ligados à vida dos brasileiros.

Primeiro foi o ministro Edson Fachin, que, numa só canetada, ressuscitou o legítimo representante da “Rainha da Sucata” para a vida pública.

Como consequência desse ato veremos em breve o Lularápio da Silva subindo ao ringue para enfrentar o “Salvador da Pátria” (duas vezes entre aspas).

Lula virá travestido de homem bom, de caráter impoluto, injustamente condenado e triste viúvo que perdeu sua adorada esposa pela “pressão” que sofreu.

Por sua vez, o adversário na briga pelo cinturão já adotou o estilo do bonzinho preocupado com a saúde do povo, estimulando o uso de máscaras (ao contrário do filho Dudu que mandou as pessoas enfiarem a máscara no rabo) e de vacinas. Está seguindo isso faz quase uma semana. Olha o que causa a concorrência!

Numa tentativa de se eximir da responsabilidade pelas mais de 270 mil mortes provocadas pela Covid e pelo seu negacionismo, ele agora não para de empurrar o boneco de ventríloquo para ir a público fazer promessas animadoras de compras de vacinas – e que depois precisam ser desmentidas por ele mesmo. E o boneco, cumprindo o papel de subserviente a que se sujeitou, desmente tudo com maestria, sem nenhuma expressão que poderia indicar uma certa vergonha na cara, como se fosse natural enganar a população com falsas promessas.

No primeiro momento todo mundo caiu de pau no ministro por nos obrigar a assistir a essa contenda em que os dois lutadores mereciam ser nocauteados. Mas logo começaram os “Ti Ti Ti” e alguns analistas sugeriram que a real intenção de Fachin ao anular as condenações do Nine – apelido de Lula nas listas de pagamentos de propinas – seria a de livrar a cara do juiz Sérgio Moro, acusado de suspeição no “Vale Tudo” das sentenças relativas ao caso.

Se isso era verdade, Edson Fachin começou a ver seu plano indo para o ralo (o julgamento ainda não terminou) já no dia seguinte, quando Gilmar Mendes fez passear sua boca mole entre as orelhas por mais de uma hora, soltando “Cobras e Lagartos” sobre Moro, oferecendo evidências de que ele tinha sido, sim, um juiz parcial.

Do ponto de vista jurídico não se pode dizer que estava errado. Fiquei sabendo que gravações hackeadas até podem ser aceitas num julgamento se servirem para inocentar o réu, mas nunca para incriminá-lo.

Aí fica a pergunta: Moro, até então considerado “Sangue Bom” pela torcida, não sabia disso? Se sabia, não ficou com medo de virar “A Próxima Vítima”? Não imaginou que poderia parecer aos olhos da oposição que o que ele queria mesmo era trabalhar para “O Rei do Gado”? Ou teria ele simplesmente cometido um “Pecado Capital” no afã de atender ao anseio de milhões de brasileiros e, ao dele próprio, sem se importar com as consequências?

Com essas e mais outras, lá se foi a Lava-Jato, conforme preconizou o nosso presidente em outubro do ano passado, em tom de brincadeira: “eu acabei com a Lava Jato”. Segundo ele, a operação acabou porque não tem mais corrupção no seu governo (a dos outros, ele quis dizer. Rachadinhas feitas em casa não entram na sua lista de corrupções), mas a frase foi criticada por Moro na época e por analistas políticos.

Diante dos fatos, sobrou ao povo a novela “Salve-se Quem Puder”. A não ser que a gente descubra “O Caminho das Índias” e, assim, consiga “Viver a Vida” com um mínimo de dignidade nesta “Torre de Babel”.

Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 12/3/2021. 

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