O Baile!

O baile, ou os bailes que costumam acontecer no suntuoso Palácio do Planalto, têm sido bastante movimentados ultimamente, com um intenso troca-troca de dançarinos.

Nas últimas semanas assistimos a várias despedidas do elenco, como por exemplo, a do bailarino Pazuello.

Quando foi convidado para participar da dança, vestiu sua melhor roupa de gala e saiu girando pelo salão ao som da Cloroquinus Orchestra, guiada pelo maestro Bolsobichewski, que é também diretor do corpo de baile.

Foi obediente à batuta do maestro e não mediu esforços para agradar ao máximo. Dançou tanto que acabou ficando sem ar (logo ele que deveria ter ar sobrando para distribuir em cilindros para a platéia).

Mas ainda assim os organizadores do baile Arthur e Rodrigo não gostaram da apresentação e sugeriram uma substituição. Dessa forma, o bailarino soldado cabeça de papel teve de voltar ao quartel.

Escolheram então uma bailarina clássica, experiente, com um vasto currículo de cursos de balé em escolas da dança famosas.

Ela, porém, depois de conversar com a maestro, decidiu não aceitar o convite porque sua formação não permitia que dançasse outros gêneros que não o clássico. E assim, em ponta de pé, saiu sem sequer fazer uma apresentação.

Continuando sua busca, o maestro Bolsobichewski mandou chamar o amigo de um dos integrantes da sua orquestra (composta basicamente pelos filhos) que concordasse em dançar conforme sua música. O bailarino Queiroga aceitou de pronto e se mostrou disposto a concordar com a proposta desde que tivesse alguma liberdade para dar uns passos que aprendeu na escola. Aparentemente o maestro aceitou, mas, como é ciclotímico, nada garante que ele não mude o ritmo da música durante a temporada. Resta saber se o novo integrante vai aderir ao forró rasteiro que, às vezes, o maestro impõe aos seus membros, quando começa a achar que a orquestra é sua. Já falou em outras ocasiões “minha orquestra”, esquecendo-se de que ela pertence a toda a comunidade e ele não passa de um regente temporário.

Durante a semana outro bailarino de menor importância também saiu porque não estava agradando aos organizadores e nem à plateia. Araújo, como é conhecido no exterior, chegou a se apresentar em Pequim mas acabou criando um atrito com os chineses e isso repercutiu mal entre os integrantes do corpo de baile daqui. Não vai fazer falta, certamente. Nunca teve uma apresentação de destaque.

E na sequência das trocas, não um, mas três de uma só vez deram um basta ao maestro que insiste em fazer com que todos dancem a mesma música pretendida por ele. Os recém-saídos argumentaram que seus papéis eram o de abrilhantar o evento e não o de participar de uma apresentação antidemocrática onde só o maestro tem comando de voz.

Com essa atitude esses bailarinos receberam aplausos da plateia e também apoio dos seus empresários, que batem na tecla de que bailarino não tem de defender ideologia de maestro algum. Apenas dançar!

Bolsobichewski não ficou contente com esse desfecho e, com certeza, vai tentar novamente assumir o comando de tudo, como sempre sonhou.

É tão obstinado por essa idéia que ainda não se deu conta de que sua orquestra possa um dia se revoltar e tocar, exclusivamente para ele, a Morte Do Cisne ou a Valsa do Adeus!

Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 2/4/2021. 

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