Não sei por que, mas todo mundo que eu encontro me pergunta o que eu acho que vai acontecer no ano que vem. As pessoas pensam que jornalistas aposentados, decerto porque já viram muita água passar debaixo da ponte, sabem mais das coisas do que o resto dos mortais.
Era o que eu mesmo pensava quando tinha meus 17/18 anos e encontrava velhas raposas do jornalismo político, econômico ou astronômico (sim, eu gostava muito de astronomia), passeando pela movimentada Rua da Praia, em Porto Alegre. Na esquina da Borges ou na Praça da Alfândega era fatal encontrar essas velhas figuras.
Hoje sou eu, do alto dos meus 75, que tenho que dar respostas. E acho que tenho uma boa resposta. Sabe o que eu acho? Que a economia vai ficar muito pior do que sempre esteve, o Posto Ipiranga vai fechar por falta de gasolina e o presidente de Pindorama vai jogar a toalha. Não, não vai renunciar, mas quase. Será uma renúncia bolsonaresca: todo mundo sabe que ele tem que continuar em algum cargo eletivo para não ser preso, ele mesmo já deu a dica em público, a cara fechada e o dedo em riste, perante sua tropa formada na Paulista. Então, o que ele vai fazer é muito simples: vai se desincompatibilizar da Presidência no tempo regulamentar estabelecido em lei – seis meses antes da eleição – e se candidatar a um novo mandato parlamentar.
Sim, meus jovens ouvintes ou leitores, vamos ter um repeteco do que o homem sempre fez antes de se eleger para a Presidência da República em 2018. O homem vai para o Congresso, aquele antro de “comunistas e vagabundos” em que ele sempre se deu bem sem precisar fazer nadica de nada e mais coisa nenhuma. Vida mansa ao rei! Mas para onde no Congresso? Para o Senado, gente! Lá estará garantido por oito anos e mais oito de reeleição. Façam as contas: são 16 anos de mandatos seguidos e se não for para um terceiro terá chegado aos 80 e tantos anos de boa vida, com todos os processos devidamente prescritos. Se forem três mandatos, nossa!, estará beirando os 90. Um matusalém político cheio de glórias com direito a coroa de flores pendurada no pescoço!
Eis aí o destino do homem, e não preciso botar a mão no fogo para dizer que ele tem voto para isso. Não tem para se reeleger presidente, mas para o Senado tem de sobra. E já sei até qual é o Estado pelo qual vai se eleger, fácil, fácil. Lembram-se do que o impagável José Sarney fez ao largar a Presidência da República? Não foi para o Amapá? Pois é, foi pra lá e elegeu-se senador emérito da República em sucessivas e ininterruptas campanhas senatoriais.
Meu palpite é que o homem vai para…. Quem dá mais? Estou vendo um ali levantando o dedo para dizer Santa Catarina. Tem outro lá gritando que é Goiás e outros berrando que é Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Mato Groso, o escambau. Nada disso, gente! Sabe o que eu acho? Que o homem vai pegar o caminho da roça para Rondônia. Sim, Rondônia. A terra do nióbio! O homem é tão fixado nesse troço de nióbio que só indo pra lá para sossegar o facho. Deitar em berço esplêndido com nióbio até o pescoço. Que maravilha!
E quem vai governar nosso querido Brasil? Ora, aquele mesmo cujas mancadas – para não dizer outra palavra – junto com as de seu poste foram responsáveis em grande parte pela assunção meteórica do então apagadão deputado federal ao paraíso na Terra – o Palácio da Alvorada, aquele que um outro presidente tentou, de tudo que era jeito, tirar o cheiro de fritura da cozinha que empesteava todos os aposentos reais e não conseguiu. Niemeyer venceu e o palácio continuou fedendo a fritura toda vez que alguém deitava um bom bife na frigideira da cozinha. Maldição do comunista de carteirinha que desenhou Brasília pensando nos quarteirões stalinistas de Moscou sem vento cruzado.
Sim, pessoal, Lula da Silva será nosso novo velho presidente para tentar remediar – é meu mais sincero desejo – as mancadas, para não dizer a outra palavra, que ele mesmo fez e o de agora replica em cima com uma vontade jamais vista no estreito corredor que leva aos sanitários do Alvorada.
O mundo está estarrecido conosco, depois de memorável estância por Nova York e o templo de vidro da ONU protagonizada pela tropa presidencial que foi para lá como um bando de jecas deslumbrados que chega na Lua. Mas esse mundo não viu nada aqui dentro. Só está vendo o que se passa do lado de fora. Vem pra cá, gente boa, ver o pão que estamos comendo e que nem o diabo quis amassar. E no ano que vem, gente boa, tem Carnaval! Vamos pular que a vida é curta e não vale a pena se se tem a alma pequena. Tim-tim, Fernando!
22/9/20121
(*) Nelson Merlin é jornalista aposentado e desocupado.
Merlin, ocupe-se mais, para produzir textos tão bons como este. Apelo de decano coleguinha , que o destino e o JT levaram a Macapá para cobrir Sarney em campanha… Só não esperava a chance de cobrir, nestes tempos, para alguma publicação estilo Veteranos em Ação, a campanha do atual ocupante da Presidência para uma cadeira de senador por Rondônia Pode ser divertido: “Discursou na inauguração das obras de recuperação da ferrovia Madeira-Mamore'”.